Para Deixar-te Partir

Já que parece que cartas se encaixam tão bem em nós dois, lá vou eu, iniciando mais uma, da mesma maneira que eu sempre inicio qualquer outra.

Querido L.
Sei que é costume em diários chamar as pessoas por suas iniciais. Então, L., cá está você, presente em mais um dos meus textos de amor, que são sempre sobre você, mas que normalmente não tem destinatário e são postados no meu blog, aquele que você nem imagina existir.
E novamente estou me enrolando, tentando protelar as palavras que devem ser ditas, por que é muito mais fácil adiá-las do que encará-las de frente. Mas elas precisam ser ditas, por que minha vida inteira a partir desse momento será regida por elas, e isso não pode esperar.

Querido L.
Agora sim, inicio minha carta. Você é importante, muito importante para mim. Apesar disso, sei que devo deixar você ir, já que não sentes por mim o que sinto por você. Se sentisse, já tinha dado a entender isso de alguma maneira. Ao contrário, a única coisa que você insiste em me fazer entender é que, novamente, meu coração enganou-se e eu não sou correspondida.
Esse meu coração, que parece gostar de apanhar, gostar de sofrer. Essa dor que ele sente constantemente, que é cada vez maior... dessa vez, o causador foi você.
Cansei de correr atrás de você, L. Cansei de fingir que te olhar era tudo o que me fazia bem, quando na verdade só servia para me fazer mal. Afinal, devia ser a mesma sensação de quando alguém, perdido durante horas no deserto, olhasse para a foto de uma garrafa de água. Ao mesmo tempo que aquilo parece atraente, acolhedor, sabes que será apenas a visão.
No fim desse ano, que já está quase na metade, tudo mudará. Não estaremos mais juntos, não nos veremos mais... o que seria de nós dois se começássemos agora? Eu sei que é um sonho meu, e sei que você seria capaz de me fazer feliz, tanto quanto eu seria capaz de fazê-lo por você, mas e quanto ao futuro? Desde o início, eu sabia que jamais seríamos nada, que você seria apenas mais um nome gravado em meu coração, provavelmente o mais forte. Eu só não queria ser obrigada a encarar a verdade que eu mesma já conhecia. E de que adianta começar agora algo sem futuro? Para sofrer mais no final? Prefiro não arriscar.
Além disso, como começar algo onde só um dos dois se entrega de corpo e alma? Impossível. Tudo o que farei é ferir-me.
O que mais machuca é te ver partir, é imaginar que estou desistindo do que mais amo, mesmo quando sei que é o certo a se fazer e mesmo sabendo que jurei jamais fazê-lo. Acabou. Acabou minha paciência, minha vontade, minha força. Acabaram-se também as lágrimas em público.
Eu estava tentando moldar-me à pessoa que eu jurei que você fosse gostar, mas aquela não era eu. Corri atrás de você, fui a todos os lugares aos quais você disse que iria, passava pela sua frente milhares de vezes para ver se você me notava, moldei meu futuro ao redor de sua imagem... Sabia que não devia fazer aquilo, mas fiz mesmo assim, por que sou idiota e meu coração é estúpido, e ambos não aprendemos com a dor uma vez, gostamos de quebrar a cara.
Dizem que quando uma frase possui muitas vírgulas, é sinal de que está na hora de um ponto final. Nossa história, aquela planejada em minha mente apenas, era uma sequência interminável de vírgulas. Sim, estava na hora de um ponto final. E aqui está ele, sendo grafado enquanto ponho para fora essas palavras, que pouco a pouco unem-se, formando a coisa mais difícil que já fui obrigada a escrever. Se já havia sido difícil para mim admitir que te amava, deixar você partir está sendo milhares de vezes mais difícil.
E quando te vir com alguém em seus braços, com aquele sorriso bobo que eu tanto desejei que viesse a ser meu algum dia, tentarei sorrir acima de tudo, pois você estará feliz, e eu tentarei ficar feliz por isso. Afinal, eu te deixei ir, não deixei? Te deixei ir pois não fazia sentido prender-me em você, sendo que você jamais havia prendido-se a mim.
Quem sabe algum dia, L.? Quem sabe, em algum momento, nós não nos encontremos por aí e então você perceba o quanto eu tentei? Quem sabe nosso futuro não esteja entrelaçado algum dia? Eu duvido muito, pois a minha impressão é que nunca seremos um do outro e eu ainda sofrerei ao ver-te partir aos poucos. Mas não posso deixar ir essa pequena, quase inexistente, centelha de esperança, por que será ela a manter-me erguida dia após dia. E sei que acordar pela manhã será um sacrifício imenso, mas eu tentarei ser forte erguendo-me nessa esperança.
E ao fim desse ano, quando você se for e eu voltar ao meu mundo vazio e sem graça, quem sabe o conforto do mesmo me faça sentir-me melhor, e então eu consiga te superar, pelo menos em parte. Até lá eu sofro te vendo partir, sofro vendo minhas chances sumirem, dia após dia, pois sei que isso é importante para você e um dia será importante para mim.
Afinal, de que valeriam os dias felizes sem os ruins para fazerem com que os desejemos?
Então seja livre, L., voe para o mais longe possível sem olhar para trás, ame, viva, seja feliz. Eu estarei te observando de longe e torcendo, por mais que me doa, que isso aconteça para sempre, cada vez mais, e que, no final, sua vida tenha valido a pena.

Com Amor
Juh