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Mensagem por Jess Silver Sáb Out 08, 2011 7:35 pm

(Capa:Brevemente)


Prólogo





Não fazia a mínima ideia de como escapar àquela situação. Parecia estar completamente fora do meu alcance. E eu realmente odiava quando as coisas ficavam fora do meu alcance.
Podia olhar para ele mas não podia tocar-lhe; simplesmente porque essa regra tinha sido implementada há séculos e séculos. Mas antes mesmo de eu ter nascido, já havia esse preconceito. E era por causa dele que, agora, eu não podia estar com ele.
Porquê?




Nem devia ter olhado para ele, não devia estar a preocupar-me com ele. Possivelmente vou arranjar sarilhos por gostar daquele rapaz. Nem faço ideia do porquê de ter entrado nesta situação. As regras eram bem claras e eu insisti em transgredi-las. Agora tenho de sofrer com as consequências. E de cada vez que olhar para trás vou me lembrar que fui eu quem causou esta guerra.
Tudo por causa de um rapaz. Isto não é normal. No entanto, o que sinto, embora possa parecer louco, é profundo e intemporal. E sinto-me pronta para enfrentar tudo e todos por isto.
Mas será que vale a pena?


Bem, essa é a história de amor entre duas pessoas que não deviam nunca ter se conhecido nem se apaixonado, e por causa desse amor tudo em que eles acreditam e defendem poderá ser destruído
Quem tiver interessado em ler mais um romance meu diga tah?
Espero que tenham gostado da ideia!
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Mensagem por Susy Sáb Out 08, 2011 8:49 pm

Jess, eu quero muito ler!!
adoro suas fic e com certeza com essa não vai ser diferente.
to curiosa aqui...
posta logo ta!
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Mensagem por Annie Sáb Out 08, 2011 9:32 pm

Jess, eu quero! Eu quero!
Posta sim, amo suas fics!
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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 6:47 am

Obrigada Susy e Annie, fico mt feliz que tenham vindo ler esse tópico tambem!!
eu vou preparar o primeiro cap e depois posto logo!!
brigada Wink
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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 7:11 am

Capítulo 1


Tragédia






Abri os olhos. A intensa claridade de mais uma manhã entrava pela janela aberta do meu quarto. Um sorriso distendeu-se nos meus lábios. Saí da cama e vesti o roupão de seda de andar por casa, calçando também os chinelos. Depois parei, à escuta. Não se ouvia nada, logo, a minha mãe ainda devia estar a dormir.
Aproximei-me da janela e afastei os cortinados, que de tão finos eram quase transparentes, e olhei para o exterior.
Parecia um dia igual a tantos outros: a luz do sol não era forte o suficiente para derreter a grossa camada de neve que cobria o solo como um manto branco e gelado. Na verdade, até havia algum nevoeiro. A rajada súbita de vento fez-me apertar mais o robe contra o corpo, e afastei-me da janela.
Saí do quarto e fui até à casa de banho, lavar a cara, arranjar-me e pentear-me. Era Sábado. Ainda bem que não havia aulas. Andava cansadíssima por causa dos deveres e dos testes. Tinha pelo menos quatro provas marcadas para a semana seguinte. Era de mais para qualquer pessoa.
Depois de ficar pronta, desci as escadas de madeira, que por serem tão antigas pareciam prestes a cair a qualquer momento, e dirigi-me à cozinha. Estava tudo às escuras, pelo que me apressei a abrir as janelas e a afastar as cortinas para deixar a fraca luz da manhã entrar na casa. Depois enchi uma caneca com leite e pu-la a aquecer no microondas. Os balcões em madeira clara da cozinha reflectiam a luz do sol. Inspirei o ar bem fundo enquanto esperava que o leite aquecesse. Aproveitei para pôr pão a torrar.
- Bom-dia.
Virei-me ao ouvir a voz da minha mãe. Lá estava ela, com o mesmo ar ensonado com que acordava todos os dias, o roupão azul desabotoado, o pijama de algodão com flores desenhadas e o cabelo emaranhado. Aproximou-se e beijou-me na testa, sorrindo.
Eu era muito parecida com ela. Tínhamos os mesmos olhos castanhos-claros e os mesmos cabelos louros acastanhados. Os lábios dela eram tão cheios quanto os meus e formavam um sorriso quase idêntico ao meu. A minha mãe não aparentava, realmente, ter quarenta anos, mas apenas entre vinte ou trinta.
- Dormiste bem? - Perguntei.
- Sim, mas podia ficar na cama mais um bocado. - Encolheu os ombros despreocupadamente.
- Estou a preparar o pão para as torradas. Senta-te que eu trato do resto.
Ela obedeceu ao meu pedido, fechando os olhos por momentos e ficando com o rosto virado para a luz do sol, que parecia iluminar-lhe a pele pouco bronzeada.
- O que vamos fazer hoje? - Perguntei.
- Visitar a tua tia. Achas uma boa ideia?
- Sim. Já não a vemos há imenso tempo. Tenho saudades dela.
- E vais poder estar com o teu primo, é bom, certo?
- Sim.
Na verdade, o meu primo não era assim tão próximo de mim. Já tinha vinte e cinco anos, e apesar de ser muito giro, estava sempre agarrado ao telemóvel a falar com a namorada ou à PlayStation a jogar. Suspirei ao adivinhar como seria passado mais um serão de Sábado na pacata casa de família da minha tia Norah.
Tirei o pão da torradeira, barrei-o com manteiga e com compota de framboesa - a minha preferida, e também a da minha mãe - e coloquei as torradas num prato. Levei o prato para a mesa, juntamente com a caneca do leite, e sentei-me ao lado da minha mãe. Dei uma trinca na minha tosta. Sabia mesmo bem.
- Hum, estão deliciosas Mary. - Sorriu a minha mãe.
- Obrigada.
Ficámos algum tempo em silêncio. Não havia um tema relevante a tratar. A minha mãe era a minha melhor amiga e a minha confidente, logo, não havia nada que lhe escondesse. E eu já sabia todos os pormenores do seu dia-a-dia na empresa de cosméticos. Portanto mantivemo-nos caladas durante o resto do pequeno-almoço.
Quando terminei, levei a minha louça para a máquina de lavar. A minha mãe fez o mesmo.
- Está tudo bem? - Perguntou, com os olhos ávidos de informação.
- Claro, por que não haveria de estar?
- Pareces anormalmente calada hoje.
Suspirei. Por que é que ela queria falar logo hoje? Não era o melhor dia do ano para conversar. E através do meu olhar, ela pareceu entender.
- Oh, pois…
- Às vezes parece que te esqueces.
- Não me esqueço, sabes bem que não, mas… - Engoliu em seco, procurando uma resposta para me dar. - Temos de tentar seguir em frente.
- Hoje não, por favor.
Passei por ela e subi as escadas até à casa de banho. Fechei-me lá dentro, despi-me e entrei para a banheira, para tentar tomar um duche de água quente, o que era difícil naquela zona, onde era complicado conseguir água quente.
Quando acabei, enrolei o corpo numa toalha branca e segui para o quarto para vestir um conjunto de roupa confortável e, ao mesmo tempo, quente. Apetecia-me que chegasse o período de férias da minha mãe, para irmos para Jacksonville ou algo parecido, onde estivesse calor e houvesse praia e mar. Québec conseguia tornar-se muito deprimente se lá vivêssemos permanentemente.
Assim que acabei de me arranjar desci para a sala. A minha mãe estava a ler uma revista qualquer. Sentei-me ao seu lado no sofá e suspirei, sorrindo.
- Desculpa.
- Não tens de pedir desculpa. Já sei que este dia é difícil para ti.
- Mesmo assim… não devia relembrar-te coisas tristes. - Respondi.
Ela sorriu, piscando-me o olho como se quisesse esquecer o que acontecera.
- E se víssemos televisão? Deve estar a dar algum programa de jeito. - Sugeriu.
Não era só o aspecto exterior da minha mãe que a fazia mais nova do que na realidade era; a sua mentalidade e os seus gostos também o faziam. Adorava programas para adolescentes e ver videoclips de música que passassem na MTV. Peguei no comando e liguei a televisão. Estava a dar um programa qualquer, uma biografia de uma estrela de cinema que ela adorava realmente. Tirou-me o comando das mãos com um sorriso exuberante no rosto, ficando logo de olhos pregados na televisão. Rendi-me com um encolher de ombros e tentei prestar atenção ao programa.
Não foi fácil.
Há treze anos que aquele dia se tornava realmente penoso para mim. E por mais que tentasse esquecer, ou seguir em frente como a minha mãe dizia, era muito difícil. O meu pai tinha morrido quando eu tinha apenas quatro anos. Ele tinha desaparecido, simplesmente. Não se havia encontrado o corpo, mas quando a minha mãe chegara a casa e vira sangue por toda a parte, entendera logo o que tinha acontecido. A polícia esforçou-se por apanhar o culpado mas revelou-se uma busca inútil. E com o passar do tempo, ela tinha aprendido a lidar com a situação e já parecia aguentá-la muito melhor. Eu passava o resto do tempo feliz e conformada com a situação, mas naquele dia era realmente difícil não recordar.
A minha mãe deve ter-se apercebido que eu estava demasiado calada, porque desligou a televisão e agarrou a minha mão entre as suas.
- Mary, eu sei que este dia é terrível para ti, mas não suporto lágrimas e tu sabes disso. Talvez seja boa ideia irmos dar uma volta para desanuviares um pouco, o que me dizes?
- Sim, é uma boa ideia. - Concordei, tentando que o meu sorriso parecesse verdadeiro.
- Vamos ao cinema, pode ser?
- Claro.
Ela levantou-se, toda entusiasmada com a ideia cujo mérito era todo seu, e correu escadas acima, a gritar "onde é que me meti as minhas botas?!". Também me fui calçar, vesti o casaco impermeável preto e enlacei o pescoço com o cachecol vermelho. Quando acabei de o colocar a minha mãe desceu, já pronta e com um largo sorriso no rosto.
- Vamos. Sabes quais são os filmes que estão em exibição nesta altura?
- Duas comédias românticas, um drama qualquer sem boas críticas, um filme de terror bastante assustador e mais uns tantos do género. - Respondi, enquanto saímos de casa e ela fechava a porta.
O alpendre estava todo molhado e tive cuidado em não escorregar até chegar ao carro, parado mesmo em frente da nossa casa. Os pinheiros do Canadá que a rodeavam estavam cobertos de flocos de neve.
A minha mãe abriu a porta do carro, e deixou-me entrar para o lugar do pendura, enquanto ocupava o seu posto de condutora e ligava o motor, assim como o ar condicionado quente para não congelarmos completamente. Deviam estar uns trinta e tal graus negativos.
- Eu gostava de ir ver o filme de terror, não te importas?
- Não. Já sei que só gostas desses.
- Se preferires podemos ver a comédia romântica.
- Não mãe. Não estou com grande disposição para lamechices. Vamos lá ver morte e destruição.
Juntei a minha gargalhada à sua. O carro seguiu rapidamente pela rua deserta e nevada, até chegarmos ao centro da cidade de Québec. Procurámos pelo cinema onde íamos habitualmente e a minha mãe parou o carro no parque de estacionamento subterrâneo, onde quase todos os lugares estavam ocupados.
Subimos no elevador até ao piso dos cinemas, e enquanto eu ia comprar os bilhetes, deixei a minha mãe ver os resumos dos diferentes filmes em exibição, para ver se sempre preferia o filme de terror.
- Parece ser interessante… mortos-vivos com fartura, vampiros, lobisomens, médicos malucos ao género do Frankenstein… OK, pode ser. - Riu-se.
Paguei os bilhetes e seguimos para a sala onde se exibia o filme. Chegámos mesmo em cima da hora, os anúncios da publicidade já estavam no fim. Recostei-me e tirei uma pipoca do pacote que a minha mãe tinha comprado. Ela já tinha os olhos arregalados, preparando-se para a morte eminente que seria apresentada no ecrã.
O filme era realmente aterrorizador. Não gritei nem por uma vez, mas o mesmo não se pode dizer da minha mãe, que ia deixando cair o pacote das pipocas ao chão e tudo. De vez em quando, os restantes espectadores gritavam em coro quando alguém era morto, esfaqueado, esventrado ou decapitado, entre outras maneiras de tortura mais criativas.
Ao fim de duas horas de carnificina, o filme chegou ao fim e saímos da sala. As mãos da minha mãe ainda tremiam.
- Uau foi o melhor filme de terror que vi até hoje!
- Ainda bem que gostaste.
- Vê só as horas! A tua tia está à nossa espera, temos de ir.
Saímos do cinema, entrámos no carro e preparámo-nos para atravessar o centro da cidade, até aos arredores, onde ficava a bela casa de campo da minha tia. Ficava para lá de um desfiladeiro perigoso, mas a minha mãe fazia a viagem tantas vezes que já não havia qualquer possibilidade de acidente.
Ela ligou o rádio e fomos grande parte da viagem a ouvir música. Aquela estação era realmente boa, gostávamos da maioria das canções que ela passava.
De repente começou a nevar imenso. Fiz um trejeito de descontentamento. Conduzir com neve já era mau, quanto mais a nevar torrencialmente. Os pára-brisas do carro da minha mãe mexiam freneticamente mas eram insuficientes para afastar tantos flocos brancos.
- Talvez seja melhor ligares para a tia e avisá-la que vamos demorar. - Sugeriu a minha mãe.
Tirei o telemóvel da mochila e preparava-me para marcar o número da minha tia quando reparei que não havia rede.
- Hum… mãe…
- Sim?
- Deves ter-te esquecido que nesta zona não há rede.
E era verdade. Dali a pouco tempo, o rádio deixou de funcionar e tivemos de o desligar. Nevava cada vez com maior intensidade. Apertei mais o casaco contra o corpo, afagando as mãos para as tentar aquecer.
- Mary?
- Diz mãe.
- Quanto ao que se passou de manhã… quero que saibas que…
- Eh, não precisas de dizer nada. Sei que fazes de tudo para que a situação seja menos penosa para mim. Mas tens de entender que… há demasiadas recordações.
- OK. Gosto muito de ti querida.
- Eu sei mãe. Também gosto muito de ti.
Mantive-me calada por uns momentos, observando a neve a cair intensamente lá fora. Quase não se via a paisagem montanhosa, como se estivéssemos debaixo de uma camada de neve cerrada. De repente, a minha mãe gritou de pavor.
- O que foi? - Perguntei, sobressaltada.
Ela tentou travar mas não conseguiu. Os seus olhos apavorados cravaram-se nos meus enquanto a boca se abria num grande "O".
- Não… tenta travar! Vá lá, tenta!
Ela fez força com o pé para baixo mas de repente o pedal do travão saltou fora. Senti o carro a abanar debaixo de nós, e depois, fui violentamente projectada na direcção do vidro.
Começámos a cair sem parar. Gritámos enquanto tentávamos travar o carro em queda livre. Eu andava aos trambolhões dentro da viatura. O terror apoderou-se de mim. Estávamos a cair pela ravina, íamos ambas morrer. Não havia como escapar à morte certa. Bati com a cabeça no espelho retrovisor com demasiada força.
Acho que foi nesse momento que perdi os sentidos.



Quando achava que não podia viver mais, senti a dor a espalhar-se pelo meu corpo. Franzi o sobrolho para tentar controlá-la mas não conseguia lá muito bem. Tentei abrir os olhos e ver o que me rodeava.
Havia neve por todo o lado. Estava um frio de morte e eu estava encurralada entre o tejadilho do carro e a neve gelada por baixo de mim. O carro devia ter catapultado enquanto caía. Tentei pôr-me de pé mas era impossível. A viatura era demasiado pesada para ser movida.
E havia qualquer coisa vermelha junto da minha cabeça. Tentei movê-la e isso provocou-me mais dor ainda. Movi a mão até conseguir chegar com ela à nuca. A humidade quente que se espalhava em torno do meu pescoço só podia ser o meu sangue.
Tentei manter a calma, embora soubesse que não havia esperança. Se ainda não tivesse morrido, pouco faltaria. Tentei empurrar o tejadilho com as pernas para me libertar, mas ao fim de sete tentativas falhadas, desisti.
Nunca fora uma desistente, mas ali não havia hipótese.
Depois, distingui um brilho alourado no meio da neve e dos destroços do carro. Um soluço irrompeu dos meus lábios que tremiam de frio e de medo.
- MÃE! - Gritei, ao identificar a mancha loura escura.
Era o cabelo da minha mãe. Estiquei a mão livre na sua direcção, tentando alcançá-la, mas estava muito longe. Continuei a gritar. Precisava de saber se ela estava viva ou não. Iria responder-me se conseguisse falar… mas a resposta nunca chegou até mim.
As lágrimas começaram a escorrer-me pelo rosto quando percebi o que acontecera. A minha mãe morrera. Já não havia hipótese. Tinha de conseguir libertar-me da prisão que o tecto do automóvel fazia por cima do meu corpo, se queria ir ajudá-la. Encolhi-me e usei as mãos para tentar cavar na neve, afastá-la e arranjar espaço para sair. Mas os meus dedos depressa ficaram enregelados demais para continuar. Chorei e solucei sem fim. Não havia esperança…
A dor na cabeça era cada vez mais profunda, e distingui também um novo ardor nas costas. Ao tentar virar-me a pontada tornava-se mais forte e impossibilitava-me o movimento.
- MÃE AJUDA-ME! - Gritei.
Não queria aceitar que ela tivesse morrido. Não, não podia fazê-lo, tinha de continuar a lutar.
Mas estava sozinha. Ia ficar sozinha.
De repente, surgiu algo novo no meu campo de visão, que cada vez ficava mais nublado por manchas arroxeadas que se entrepunham na minha visão. Era uma mancha negra que se movia lentamente na minha direcção.
À medida que se foi aproximando, pareceu-me distinguir os contornos de uma capa preta, que ondulava ao vento frio. O sujeito que se aproximava usava o capuz do manto em volta da cabeça. A única parte do seu rosto que me era permitida ver era a dos lábios, demasiado vermelhos em contraste com a pele pálida. Gritei ao entender que era a Morte que vinha na minha direcção.
Esperneei tentando libertar-me a tempo de fugir, mas não consegui. Era inútil. A Morte chegou finalmente à minha frente e acocorou-se diante de mim, examinando, talvez, o meu rosto aterrorizado.
Com um movimento rápido, afastou o tejadilho do automóvel de cima de mim. Todas as forças que eu empregara inutilmente na tentativa de me libertar tinham sido em vão, mas a Morte tirara o peso de cima do meu corpo com apenas o movimento de uma mão. Pisquei os olhos, atordoada, e senti o coração a deixar de bater.
Ia parar, eu sabia, mais tarde ou mais cedo eu ia morrer.
Mas ainda assim, num acto quase instintivo, levantei-me e tentei correr para longe, fugir da Morte e manter-me viva. Infelizmente, uma das minhas pernas cedeu quando tentei pôr-me de pé. Gritei com a dor que esse movimento provocou ao longo de todo o meu corpo.
Tinha partido a perna durante a queda. Agarrei-me a ela, tentando não morrer de dores, e nem consegui aperceber-me que a Morte se aproximara mais de mim, até sentir uma mão gélida e pálida como a neve a agarrar-me no ombro. Gritei histericamente e recuei, acabando por tropeçar e cair de costas na neve.
Entendi nesse momento que tinha chegado a minha hora. Não havia mais nada a fazer, ninguém a quem pedir ajuda.
Com um último suspiro de medo, deixei as lágrimas escorrer-me pela cara. Os braços da Morte, envoltos nas mangas do manto negro, passaram por debaixo do meu corpo e ergueram-no com aparente facilidade, como se a Senhora das Trevas me estivesse a pegar ao colo docemente, como faria a uma criança.
Estava a morrer; estes pensamentos confusos deviam ser motivados pela proximidade do fim.
- Acalma-te, Marylinn Osbourne. Vai ficar tudo bem.
Era espantoso, quase inacreditável, que a voz da Morte pudesse ser tão profundamente calmante, tão sedutora e ao mesmo tempo tão suave. Dei-me por vencida de uma vez por todas. Já não havia mais nada a fazer.
- És… A Morte? - Balbuciei, tentando falar, mas sem grandes resultados.
- Não. E prometo que vou salvar-te.
Os meus olhos fechavam-se e eu lutava para os manter abertos, embora soubesse que era completamente escusado. E estranhou-me o facto de A Morte dizer que me ia salvar.
- Não me mates… - Supliquei, num murmúrio.
- Não o farei.
A sua voz mantinha-se calma e doce, mesmo sabendo que eu morreria a qualquer momento. Se ele não era a Morte não devia estar tão calmo ao ver uma pessoa morrer nos seus braços.
Os seus braços eram tão frios que o meu corpo começou a congelar. Os meus dentes batiam incontrolavelmente e os olhos fecharam-se de vez. Mas ainda assim, antes de o meu coração parar de bater, senti uma dor gigantesca no pescoço, que superava tudo o resto, como se me estivesse a esfaquear. Gritei o mais alto que pude, tentando libertar-me dos braços gélidos dele. A dor no pescoço foi-se tornando mais forte, como se fosse fogo. A Morte tinha-me deitado fogo. Convulsionei-me até sentir o coração a deixar de bater. Ele matara-me mesmo, ao contrário do que prometera não fazer.
O homem não era A Morte. Era um demónio de voz anormalmente suave e profunda. Um demónio que prometera salvar-me mas acabara por me matar.
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Mensagem por Susy Dom Out 09, 2011 3:07 pm

Jess... amei!!
o q vai acontecer com ela agora?
to curiosa aqui...
posta logo!!
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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 3:13 pm

Susy escreveu:Jess... amei!!
o q vai acontecer com ela agora?
to curiosa aqui...
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ahhhhhhh primeira a comentar hein!!!
brigada Susy fico tão feliz que tenha gostado!!
e voce leu tudinho hein, esse cap tá gigante mesmo sorry
mas brigada por ter vindo
vou postar mais agora sim me dê só 1 segundinho
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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 3:21 pm

Capítulo 2


Despertar






Era como se estivesse a acordar de um pesadelo qualquer sem na verdade deixar de sentir a dor. Senti algo a acordar dentro de mim. Como se a minha alma tivesse encontrado outro sítio onde morar. Alma e corpo são coisas separadas, logo, quando o meu corpo foi destruído, a minha alma sobreviveu. O meu corpo havia sido destruído pelas chamas. Umas chamas que me consumiram e me fizeram gritar até à morte com uma dor que não aguentei durante muito tempo. Quando deixei de sentir domínio no meu corpo e os meus sentidos me abandonaram, tive plena noção de que ia morrer. Morri naquela altura.
Então, o que era isto que estava a sentir agora? Era novo e curioso. Uma espécie de… ardor. Só ainda não tinha percebido bem onde é que o sentia. Um ardor que começou a tornar-se mais intenso à medida que eu ia despertando para a minha segunda vida. Os meus sentidos, embora muito desfocados, iam voltando a mim. A minha alma expandia-se a cada partícula daquele novo corpo, da minha nova casa. Quanto mais a dor se agravava mais eu tinha noção de que estava viva: não podia haver tanta dor assim depois de se morrer, certo?
Tentei abrir os olhos mas a visão ainda não me fora devolvida. Percebi que não podia movimentar-me livremente. Havia algo muito pesado a prender-me ao chão. Esperneei e debati-me para me soltar mas era impossível. O que quer que fosse que me aprisionava, aço ou ferro, não me libertaria por mais que me esforçasse.
Finalmente consegui gritar. O meu guincho aterrorizado elevou-se bem alto da dor que eu sentia. Fez o meu corpo convulsionar-se enquanto tentava libertar-me e ser livre. Mas não estava a ser nada fácil.
A minha visão começou a voltar, ainda que desfocada, para no fim se tornar melhor que antes. Não me lembrava muito bem das coisas que vira antes de morrer mas sabia que não era muito parecido com aquilo. Gritei mais ainda quando o terror tomou o lugar da dor no meu corpo. Estava numa sala de pedra negra, sombria e fria, que me assustava imenso. Ao fundo havia um caldeirão a arder, a chama era a única fonte de luz na divisão. Não havia janelas nem parecia haver porta, ou se houvesse encontrar-se-ia atrás de mim e eu não a podia ver. Lembrava-me vagamente o aspecto de uma cripta…
Eu estava numa cripta?! Porquê? Morrera mesmo? Então por que é que estava a acordar outra vez? Ter-me-ia tornado num fantasma?
Quanto mais gritava mais o ardor se intensificava, e finalmente descobri onde o sentia.
Era a minha garganta que estava a doer mais que o resto do corpo. Ao entender isso, calei-me. Se continuasse a esforçar as cordas vocais a garganta continuaria a doer-me.
Mas mesmo sem gritar, o ardor intensificava-se.
- Está na hora. Ela está a acordar!
A voz que ouvi, a primeira naquela nova vida, fez-me paralisar de susto. Parei de me debater e de berrar, ficando à escuta, apreensiva. De quem seria aquela voz? O que fazia ali? Por que é que me prendera?
Virei a cabeça em todas as direcções, esperando ver quem falara, e finalmente descobri-o. Não vinha sozinho, atrás de si caminhava uma mulher.
Fiquei sem palavras quando o reconheci. Claro, era ele. Como podia ter-me esquecido daquela voz misteriosa, suave e sombria? Não tinha ouvido mais nenhuma como a dele.
O homem que me matara caminhou até perto de mim, examinando-me. O sorriso resplandecente no seu rosto da cor da neve assustou-me. Quando o vira, antes de me matar, só conseguira observar-lhe os lábios, que se mantinham iguais. Mas os olhos assustara-me mais que tudo o resto. Eram vermelhos, carmesins escuros, profundos e ardentes. Deixou cair o capuz do manto negro para trás e vi-lhe o cabelo. Era curto e estava emoldurado com gel. Um sorriso de satisfação rasgou os seus lábios, também eles da cor do sangue. Percebi tudo rapidamente, embora a minha memória e o meu raciocínio ainda estivessem lentos de mais.
Ele tinha-me prendido ali, fora ele, a dor no meu corpo provavelmente também seria provocada por ele.
Por que é que me estaria a fazer sofrer?
- Bem-vinda Mary.
Solucei. Queria pedir-lhe para me soltar mas senti medo e decidi manter-me calada. Ele era meu inimigo.
A mulher que estava atrás dele aproximou-se também, sorrindo ao ver-me pela primeira vez.
Era linda. Estranhamente parecida com o sujeito, como se fossem irmãos ou algo parecido. Era tão pálida como ele, tinha também o cabelo preto, liso como um véu de seda negra, e os olhos vermelhos da cor do sangue. Os seus lábios eram do mesmo tom. Usava um vestido negro até aos pés, de mangas compridas, e que lhe assentava como uma segunda pele, estreito ao corpo. Um belo colar enfeitava-lhe o pescoço. Retraí-me quando os seus lábios cheios se distenderam num sorriso amigável.
- Querido, apresenta-ma.
- Esta é Elisabeth, a minha companheira. Eli, apresento-te Marylinn Osbourne.
Elisabeth pegou na mão do homem e entrelaçou os seus dedos finos e brancos nos dele. Pareciam demasiado à vontade, apesar de saberem que eu me convulsionava com dores e estava aterrorizada. Que espécie de seres eram aqueles?!
- Talvez ela precise de ajuda. Será melhor ir buscar algo para ela? - Perguntou Elisabeth, fitando o marido inquisitoriamente.
- Sim, é melhor. Vai.
Elisabeth desapareceu instantaneamente. Num segundo estava à minha frente e no seguinte já havia desaparecido. Pisquei os olhos para tentar entender se vira bem ou se ela não passara de uma miragem.
- Vou libertar-te, Mary, mas preciso que te mantenhas calma.
Não respondi, estudando a sua expressão facial com o meu olhar. E se ele estivesse a mentir?
- A tua dor acabará depressa; a Elisabeth foi buscar o remédio.
Assenti com a cabeça. Queria confiar nele. Em quem mais poderia confiar? Não havia ninguém que me pudesse ajudar naquele momento a não ser ele. E por muito mau e estranho que fosse, podia libertar-me da dor. Nada mais desejava além disso.
O homem acocorou-se junto a mim e com um movimento rápido das mãos, rebentou com as cordas de aço que me prendiam ao chão. Fiquei de boca aberta sem ser capaz de acreditar que ele tivesse feito aquilo, mas o seu sorriso calmante apaziguou-me.
- Agora tens de beber o que a Elisabeth trouxer para ti. Verás como a dor abrandará e nessa altura poderemos explicar-te o que se passou, está bem?
Tornei a acenar com a cabeça e ele levantou-se. A mulher apareceu novamente, tão depressa como se fora embora, com um cálice na mão.
O cálice de prata era tão bonito que seria melhor empregue num jantar real da idade média que ali. No seu interior encontrava-se um líquido carmesim escuro, de aspecto bastante delicioso, como se fosse vinho. Elisabeth baixou-se e passou-me o cálice para as mãos.
- Bebe, Mary.
Obedeci. Assim que o líquido desceu pela minha garganta, eliminou por completo a dor. Senti vontade de sorrir e foi o que fiz. Era um sabor diferente de todos os outros que havia provado até aí. Não era vinho, mas assemelhava-se a tal. Talvez um estranho whisky, ou outra qualquer bebida que eu desconhecia mas que era completamente fantástica. Apeteceu-me beber mais e mais. Quando cheguei ao fim do cálice, devolvi-o à bela mulher que se encontrava junto do homem, e acenei com a cabeça em jeito de agradecimento.
- Obrigada.
Assustei-me. O sorriso desapareceu instantaneamente do meu rosto, sendo substituído pelo pavor.
Aquela não era a minha voz.
- Acalma-te Mary. Vai ficar tudo bem. - Assegurou-me ele.
- O que se passa?
Novamente a mudança de tom a fazer-se notar. Comecei a ficar preocupada. A dor na garganta teria alterado o meu timbre de voz? Isso seria preocupante.
- A tua voz foi apenas uma das mudanças, mas não te assustes. Estaremos aqui para responder a todas as tuas perguntas. - Respondeu Elisabeth.
A sua voz era quase mágica, infinitamente profunda, como se tivesse séculos e séculos, e não apenas décadas como o aspecto exterior dela aparentava. O seu timbre de voz era musical, alegre e formal ao mesmo tempo. Achei-a encantadora.
- Só quero saber o que me aconteceu, por que é que estou aqui. - Murmurei, habituando-me à minha nova voz.
- Bem… começaste por uma pergunta difícil… - O estranho indivíduo soltou uma gargalhada animada. - Mas obterás a tua resposta.
Elisabeth levantou-se rapidamente, assustando-me com o movimento súbito, e arregalou os olhos de espanto.
- O que se passa? - Perguntou ele.
- Problemas do outro lado. Tenho de ir. Por favor explica à Mary o que ela necessitará de saber. Ver-nos-emos mais vezes. Boa sorte. - Respondeu rapidamente, olhando para mim uma última vez antes de desaparecer tão rapidamente como da última vez.
Suspirei. Tantas perguntas e ainda nenhuma resposta. Apercebi-me que aquilo podia demorar muito tempo.
- É melhor começar a explicar-te, certo?
Disse que sim com a cabeça e ele começou.
- Aqui dentro todos me tratam por Mestre. É assim que terás de me chamar também.
- Sim… Mestre.
- Preciso de saber do que te lembras antes de… morreres.
Engoli em seco. Ele também achava que eu morrera mesmo. Então talvez aquilo fosse uma espécie de céu ou de inferno. Só não sabia como tinha lá ido parar.
Esforcei-me por relembrar os meus últimos momentos de vida. Não foi fácil. Estava tudo nublado na minha cabeça, uma mancha indistinta de imagens sem sentido. Mas depois consegui estabelecer uma ordem e construir uma resposta coerente.
- Eu estava sozinha… o carro da minha mãe despistou-se numa ravina… e eu fiquei sozinha, mas depois o senhor chegou e…
- Trata-me por Mestre. - Interrompeu baixinho.
- Sim, Mestre… chegou até mim e disse que ficaria tudo bem, que me ajudaria a superar aquele momento… depois acho que morri.
- Não te lembras mesmo como é que morreste? - Os seus profundos olhos vermelhos-escuros estavam cravados em mim, expectantes.
Tentei recordar, ultrapassar a torrente de memórias que me assolava. Tinha de tentar lembrar-me… havia de conseguir mais tarde ou mais cedo…
Subitamente, a imagem veio-me à cabeça. O grito quis formar-se nos meus lábios quando entendi tudo depressa de mais. Oh não… como é que não percebi logo? Sim, eu estava no inferno.
- O Mestre… mordeu-me… - Gaguejei, horrorizada.
Ele sorriu, contente por eu ter entendido tudo. Comecei a tremer de medo. Eu estava diante de um… de um…
- Vampiro… - Balbuciei, quase sem ar para respirar.
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Mensagem por Convidad Dom Out 09, 2011 3:25 pm

Oi Jess, acho que não nos conhecemos no fórum ainda, pois sou novata aqui. Adoro ler romances!
Certamente sou sua mais nova leitora! (ainda nao conhecia suas fics)...
Voce escreve maravilhosamente bem e detalha cada fato, pensamento, sentimento... admiro sua escrita! Fiquei surpreendida com sua história, com certeza vai se tornar um romance lindo!
Continue postando...

Beijos

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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 3:32 pm

Pri escreveu:Oi Jess, acho que não nos conhecemos no fórum ainda, pois sou novata aqui. Adoro ler romances!
Certamente sou sua mais nova leitora! (ainda nao conhecia suas fics)...
Voce escreve maravilhosamente bem e detalha cada fato, pensamento, sentimento... admiro sua escrita! Fiquei surpreendida com sua história, com certeza vai se tornar um romance lindo!
Continue postando...

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oiee Pri, seja muito bem-vinda (nao sei se já tinha dito isso ou nao)
fico muito feliz de saber que gostou da minha maneira de escrever
há muita gente que diz que a minha escrita se torna chata porque eu escrevo com demasiados pormenores e descrevo tudo até à exaustão, então isso cansa algumas pessoas que desistem de ler as minhas histórias
nas fanfictions eu tento nao fazer isso, mas quando as histórias são mesmo minhas, como neste caso, aí eu acho que me liberto ou pouco mais rsrsrrs
mas muito obrigada por ter vindo e ter lido tudo!
espero qe continue a gostar do resto da história
qualquer coisa é só dizer está bem?
beijinhoo
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Mensagem por Convidad Dom Out 09, 2011 3:37 pm

Jess Silver escreveu:
Pri escreveu:Oi Jess, acho que não nos conhecemos no fórum ainda, pois sou novata aqui. Adoro ler romances!
Certamente sou sua mais nova leitora! (ainda nao conhecia suas fics)...
Voce escreve maravilhosamente bem e detalha cada fato, pensamento, sentimento... admiro sua escrita! Fiquei surpreendida com sua história, com certeza vai se tornar um romance lindo!
Continue postando...

Beijos


oiee Pri, seja muito bem-vinda (nao sei se já tinha dito isso ou nao)
fico muito feliz de saber que gostou da minha maneira de escrever
há muita gente que diz que a minha escrita se torna chata porque eu escrevo com demasiados pormenores e descrevo tudo até à exaustão, então isso cansa algumas pessoas que desistem de ler as minhas histórias
nas fanfictions eu tento nao fazer isso, mas quando as histórias são mesmo minhas, como neste caso, aí eu acho que me liberto ou pouco mais rsrsrrs
mas muito obrigada por ter vindo e ter lido tudo!
espero qe continue a gostar do resto da história
qualquer coisa é só dizer está bem?
beijinhoo

Eu entendo vc, tem gente que não gosta de tanta descrição nas histórias, e prefere colocar mais falas e frases curtas. Mas eu realmente gosto de bastante descrição de sentimentos, pensamentos, ações... acho que tudo isso trás mais realidade à história, sem contar que aproxima o leitor com a realidade que o escritor quer passar do personagem.
Para mim, isso jamais será exaustivo. Isso é riqueza em detalhes que precisam ter na história.
Mais uma vez, parabéns!
Beijos

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Mensagem por Jess Silver Dom Out 09, 2011 3:39 pm

Capítulo 2 - 2ª Parte



(...)


Ele assentiu com a cabeça, concordando com a minha resposta aterrada. Senti as minhas mãos a tremerem tanto que mal conseguia manter-me direita. Como era possível que estivesse diante de um vampiro a sério? Porquê?
- Por que é que me fez isto?! - Berrei, cada vez mais assustada.
Se ele me mordera… e se eu estava a acordar e sentia a dor na garganta… isso devia querer dizer que eu era uma…
- Oh não!
Usei todas as minhas forças e levantei-me, afastando-me dele a recuar. Acabei por cair ao tropeçar nos próprios pés. Comecei a respirar com dificuldade, enquanto o terror e o medo se apoderavam do meu corpo e da minha mente.
Eu era uma vampira. Aquilo não podia estar a acontecer-me.
- Tem calma Mary. Acabarás por entender que fiz o melhor para ti.
- O melhor?! O Mestre matou-me!
- Não te matei. Dei-te vida eterna, diz antes isso.
Olhei para as minhas mãos e gritei de novo. Senti os olhos a encherem-se de lágrimas. As minhas mãos estavam tão pálidas como as suas, como se a minha pele fosse feita de mármore branco. Limpei as lágrimas mas estas logo foram repostas. E quando as examinei, gritei de novo.
Eu estava a chorar sangue!
O Mestre avançou até mim, estendendo-me a mão, sem nunca deixar de sorrir. Devia considerar-me uma criação revoltada que mais tarde ou mais cedo se iria deixar domar. Mas naquele momento eu sentia-me demasiado apavorada para tal.
- Porquê? Por que é que me fez isto? - Gaguejei, chorando sem parar.
- Porque era o melhor a fazer. Tens de me dar tempo para te explicar tudo calmamente. Tens de confiar em mim.
A sua voz foi-se tornando mais profunda e hipnotizante, como se me quisesse induzir num estranho estado de dormência. Lutei para me manter acordada e ciente de tudo à minha volta. Agarrei a cabeça com ambas as mãos e fechei os olhos, lutando contra o seu poder aterrorizante.
- Pare com isso! Por favor! - Gemi, com a cabeça a latejar de tanta dor.
Ele fechou os olhos e suspirou, sorrindo. Não entendi como é que a minha dor lhe podia causar satisfação. O Mestre era a pior pessoa que eu jamais conhecera.
- É fantástico. - Murmurou, deliciado com alguma memória que lhe tivesse assomado ao espírito. - És realmente única, Mary.
Não entendi de início o que ele queria dizer. Mas no meio de tanto caos no meu interior, não fui capaz de perceber ao que ele se referia. Só queria encontrar uma maneira de fazer o tempo retroceder, para me tornar de novo humana. Não podia ficar eternamente condenada a ser um monstro.
- Do que está a falar? - Vociferei, exaltada.
Ele tornou a abrir os olhos vermelhos-escuros e fixou-os no meu rosto apavorado.
- Transformei-te em vampira para te salvar.
- Para me salvar?!
Não estava a entender onde ele queria chegar.
- O carro da tua mãe despistou-se. Ela morreu antes de ti. Irias ficar sozinha num mundo onde ninguém te podia ajudar. Não tinhas mais ninguém a quem pedir auxílio. E eu andava por ali, a vaguear, quando te descobri no meio dos destroços do acidente. Preferias que te tivesse deixado morrer como uma qualquer mortal? Não, eras demasiado importante para isso.
Tentei assimilar a informação e entender o porquê da sua inesperada preocupação. Se eu era uma humana e ele um vampiro, o lógico seria que ele me tivesse morto naquele mesmo instante, alimentando-se do meu sangue. A razão para não o ter feito continuava oculta para mim.
- Por que é que, simplesmente, não me deixou morrer?
Ele abanou a cabeça em desacordo, ainda sem deixar de sorrir apaziguadoramente.
- Já te disse; eras demasiado importante.
- Porquê? Sou só uma rapariga normal!
- Mais tarde entenderás. Não te posso explicar tudo agora.
- Mas eu quero saber. - Rugi, furiosa.
- Tem paciência. Com a eternidade que te espera, a paciência será uma das tuas maiores virtudes, se aprenderes a controlá-la.
- Eternidade?!
Lembrei-me subitamente das histórias que ouvira sobre vampiros. Oh claro… agora eu era imortal. Tinha uma vida eterna pela frente… sem nunca mudar, o meu aspecto manter-se-ia igual para todo o sempre.
Essa ideia assustou-me realmente.
- O senhor… o Mestre transformou-me num monstro! - Balbuciei, tentando controlar os soluços.
- Não. És uma criatura mais forte e resistente que antigamente. Devias dar graças por isso.
- Lamento não conseguir achar piada a isto. - Semicerrei os olhos.
Ele soltou uma gargalhada abafada e tive vontade de lhe bater, mas controlei-me. Nunca pensara que alguém pudesse ser tão mau… só me apetecia sair dali de uma vez por todas.
- Posso sair daqui? Não gosto deste lugar. - Murmurei.
- Claro que podes sair daqui. Vais juntar-te aos teus irmãos e irmãs dentro de pouco tempo, mas só depois de te acalmares o suficiente.
- Irmãos? Irmãs?
Ele acenou com a cabeça calmamente.
- Os outros vampiros que habitam neste castelo. O termo "irmãos" e "irmãs" é apenas uma maneira de se tratarem entre si.
- Hum…
Não me ocorreu mais nada para dizer. O pânico estava a tomar conta de mim e falar não ajudaria a sentir-me mais calma. Havia mais seres terríveis ali dentro. Provavelmente seriam tão maus como o Mestre ou piores ainda. Respirei fundo, tentando acalmar-me.
- Eu não quero ser uma vampira.
- Não tens escolha.
Baixei o olhar, nervosamente. O que é que fazia agora? Tinha de fugir dali. Não podia viver num lugar cheio de vampiros. Seria o meu pior pesadelo.
- Tenho de me ir embora. Não posso ficar aqui. - Repeti, franzido o sobrolho.
- Lamento, mas não te poderei deixar ir.
A sua voz era ameaçadora, mas mantinha o tom calmo. Sedutora e sem me dar margem para fuga. Suspirei, dando-me por vencida. Não podia nem sabia como vencê-lo, por isso não valia a pena provocá-lo.
- A Academia da Lua Cheia será a tua casa durante o próximo ano. Não tens que te preocupar com mais nada. Aqui serás instruída e cuidaremos de ti para que aprendas a ser uma boa vampira.
- Não existem bons vampiros. - Vociferei, com os olhos a encherem-se de lágrimas de raiva.
- Vais perceber que muitas das tuas opiniões estão erradas. Como podes ver, eu sou um bom vampiro.
Discordava completamente daquela opinião mas mantive-me calada. Uma voz dentro da minha cabeça alertava-me para o facto de ele ser ainda mais poderoso do que aparentava.
- Um ano inteiro?
- Sim. O teu primeiro ano de vida enquanto vampira. Será o mais perigoso se estiveres sozinha e sem alguém a apoiar-te. Por isso é que ficarás aqui dentro. Depois desse prazo… és livre de seguir a tua existência.
Engoli em seco. Lá se iam os testes da semana seguinte. Lá se ia a tarde passada em casa da minha tia com o meu primo obcecado por jogos de consola. Lá se ia a minha vida toda.
- Mestre… o senhor prometeu-me que ia ficar tudo bem, antes de me matar. Espero que cumpra a sua promessa.
Um brilho de respeito inundou-lhe o olhar carmesim. Por alguma razão que eu ainda desconhecia, achava que ele sabia mais do que me estava a explicar.
- Irei cumpri-la. Antes de sairmos da cripta tenho de te explicar algumas noções da vida aqui dentro. E depois poderás juntar-te aos restantes alunos para o pequeno-almoço, está bem?
- Pequeno-almoço?
Fiquei surpreendida com aquilo. Se éramos vampiros, o que nos dariam para comer? Pensei que o sangue humano fosse o único alimento que nos era permitido ingerir. O Mestre pareceu entender a pergunta impressa no meu olhar.
- Claro que só bebemos sangue. Mas para que os jovens vampiros aprendam a controlar a sua sede, só podem beber um cálice por cada refeição. A do pequeno-almoço e a do jantar.
- E se tiverem sede para além disso?
- Mary, vocês estão aqui para aprender, entre outras coisas, a controlar a vossa sede. Se vos estipularmos um limite e não o puderem ultrapassar, rapidamente se habituaram a ele.
- Hum… acho que não será muito mau…
- Alegro-me por ver que começas a aceitar. Depressa entenderás que esta não é a vida terrorífica que os humanos pintaram, que conhecias anteriormente. Agora és uma de nós e tens muitas coisas a aprender.
Baixei o olhar uma vez mais. Ainda procurava uma maneira de voltar atrás mas parecia não haver escapatória. Eles manter-me-iam ali presa dentro, como num cativeiro, durante um ano inteiro.
- Estás pronta para vir conhecer o resto da Academia?
A sua voz passara de apaziguadora a entusiasmante. Suspirei e peguei na mão que ele mantinha estendida na minha direcção há imenso tempo. Levantei-me e fixei o olhar no seu.
- Primeiro preciso de saber todas as mudanças que sofri, antes de sair daqui.
Ele anuiu com a cabeça, concordando com o meu pedido. Puxou-me consigo, levemente, até ao extremo Oeste da gruta. Lá encontrava-se um espelho de corpo inteiro, junto da parede. Era um espelho lindíssimo, com moldura em ouro, cravejada de rubis cintilantes. O vidro estava imaculado. Fiquei sem palavras ao ver o meu reflexo nele.
Aquela não era eu, tal como a voz não era a minha.
Estava mais alta, mas a diferença não devia ser assim tanta. Uma das imagens mais claras que trouxera para aquela vida era a do meu reflexo nos espelhos. Sabia perfeitamente quais os meus anteriores traços fisionómicos, logo, não foi difícil entender que aquele não era o meu aspecto natural. O meu corpo estava mais esguio e elegante, com as curvas mais marcadas. O meu cabelo tinha triplicado de tamanho, descendo-me às ondas até abaixo da cintura. Dantes ele tinha um leve tom de louro acastanhado, mas agora exibia um louro prateado tão bonito que fazia confusão aos olhos, como se fosse uma cascata de prata banhada pelo sol. Nunca antes vira um cabelo daqueles, nem nos filmes. A minha pele também tinha mudado. Era tão branca como neve, como o mármore; e parecia lisa como seda, sem uma impureza ou sinal que fosse. Como uma escultura de pedra. Os meus lábios mantinham-se cheios como antigamente, carnudos e demasiado vermelhos em contraste com a pele translúcida. E os meus olhos foram o elemento que mais me assustou.
Havia-se tornado vermelhos, do exacto tom do sangue, como rubis incandescentes. As pestanas eram negras e grossas, bonitas. As sobrancelhas finas formavam um traço perfeito acima dos olhos. Reprimi um grito ao ver-me a mim própria. Era uma visão assustadora. Não podia negar que me tornara mais bela que antigamente, mas o facto de não me conhecer e de me ter de habituar àquele corpo como se tivesse acabado de nascer, e me visse pela primeira vez, deixava-me aterrorizada.
- O que achas da mudança, Mary?
Inspirei fundo antes de responder, para controlar os tremores de medo que me assolavam.
- Estou demasiado diferente. Esta não sou eu.
- És tu agora. A antiga Marylinn Osbourne desapareceu. Agora és assim. Julgo que não tenha feito um mau trabalho. - Explicou, pousando as mãos nos meus ombros para travar as convulsões leves.
- Não. Eu gosto… mais ou menos… da mudança, mas tenho de me habituar a ela.
- Terás imenso tempo para tal. Agora talvez seja melhor irmos andando. Quero saber qual foi o problema que a minha Elisabeth encontrou.
- Claro…
A maneira afectiva como ele se dirigia a Elisabeth dava para entender claramente que deviam ser marido e mulher, ou algo muito parecido. Mais uma vez, ele pareceu entender a pergunta apenas ao olhar para mim.
- A Elisabeth é a minha companheira há oitocentos anos. Fui eu que a criei.
- O Mestre transformou-a? - Perguntei, surpreendida.
- Sim. Cair no erro de nos apaixonarmos por humanos pode, por vezes, ter consequências benéficas. Eu e a Elisabeth estamos juntos desde então.
- Quantos anos tem… o senhor? - Murmurei, sem saber se devia ou não perguntar aquilo.
- Completei um milénio no dia em que te encontrei. - E riu-se.
Não fazia ideia de quanto tempo passara adormecida, mas não devia ter sido assim tanto. Mil anos! Era tanto tempo… uma existência demasiado longa.
Virámo-nos e ele deixou cair uma das mãos, mantendo a outra a pressionar ao de leve o meu ombro, como se me guiasse. Percorremos a cripta até ao fundo da mesma e lá, realmente, encontrava-se uma porta. Eu não a vira por me encontrar deitada de costas para ela.
Era enorme, em madeira velha, e parecia ser demasiado robusta até mesmo para um vampiro a deitar abaixo. O Mestre afastou-a com um toque apenas. Do outro lado encontrava-se uma escadaria de basalto, em caracol, que subia até se perder de vista.
- As senhoras vão primeiro. - Convidou ele, com um sorriso resplandecente.
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Mensagem por Susy Dom Out 09, 2011 5:05 pm

Jess, adorei os capitulos...
ela virou vampira, OMG!!
o que ela tem de especialpara ser tão importante?
estou adorando essa fic!!
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Mensagem por Nanda Qui Nov 10, 2011 6:48 pm

Olá será que para contribuir com a organização do fórum poderia colocar em que Status se encontra a sua Fanfic na frente ou no *subtitulo do tópico?

Por Exemplo:[Em Andamento]Organização.

Assim ajuda a fazer com que seus leitores possam ficar mais informados em que modo está a Fanfic.Obrigada ^^

*Quando me refiro a Subtitulo é parte onde se encontra escrito Descrição na criação do tópico
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