Summer Romance

Frio. Essa era a única palavra que passava pela minha cabeça. A única palavra que fazia o meu corpo tremer, e minhas extremidades ficarem geladas. Antes que você pergunte, eu não tive um amor não correspondido, ou estou à beira de pular de um penhasco. Não. Eu estou falando o sentido literal da palavra frio. Lá estava eu, embaixo de três cobertas de lã e continuava tremendo. Desculpe, o que você esperava de uma garota que saiu do Brasil para a Inglaterra sem ao menos um casaco pesado de lã?
Ok, ok. Vamos respirar e ir com calma Alex. Bem, vamos para o começo, onde eu morava feliz no meu mundinho no Brasil. Sim, o Brasil. Sabe aquele país que é conhecido pelo calor, pelas praias e pelo carnaval? É de lá que eu sou. ‘A típica história de uma brasileira que foi de intercambio para a Inglaterra’. Isso é o que você deve estar pensando agora, e olha, queria eu que fosse. Queria eu ser a garota histérica que grita ‘MEU DEUS! EU ESTOU INDO PARA LONDRES DE INTERCAMBIO!’ e sair correndo pulando nos sofás da minha sala. Mas a vida não é bem assim.
Veja bem, não estou reclamando de onde eu moro. Morar em Westminster de frente para o Palácio de Buckingham não é nada mal, para falar a verdade. A única coisa que me incomoda foi o porquê de eu ter me mudado para cá. Bom, há três anos, mamãe morreu de câncer, e papai entrou em uma depressão profunda. Eu? Bem, eu também estava triste, mas quem iria cuidar do meu pai, se não eu? Me entenda, eu estava abalada com a morte da minha mãe, mas não podia perder meu pai também, apesar que, do jeito que ele estava, ele estar ali ou não, ia ser a mesma coisa. Um ano se passou, e meu pai finalmente decidiu sair de casa, respirar novos ares e conhecer alguém. Nesse meio tempo, muita coisa aconteceu em minha vida, coisas que eu prefiro não comentar agora, e espero que nunca precise. Bem, quanto ao meu pai, ele começou a sair mais vezes, e sempre voltava para casa com um sorriso de orelha a orelha, me falando que tinha saído com uma amiga especial e um mês depois essa amiga aparece na porta da minha casa, com um anel de diamante no dedo: ‘Ela se muda mês que vem para cá!’
E assim, foi como eu comecei a morar com o diabo loiro. Não, eu não estava com ciúmes, eu prometo. No mês que ela se casou, o casamento aconteceu, e eu não sabia bem se ainda gostava dela. Entenda, antes do casamento, tudo eram flores. Nada parecia estar errado, e eu realmente pensei que Vivian podia ser como uma segunda mãe para mim. Ela era nova, bonita e realmente me tratava como uma sobrinha, ou afilhada. Foi depois do casamento que eu descobri. Não, aqui não é a história da Cinderela ou da Bela Adormecida. Contos de fada com finais felizes não existem. Em fim, depois do casamento, minha linda madrasta mostrou suas garrinhas. Ela era o completo oposto da minha mãe, e foi depois de uma briga e desse comentário, que os insultos silenciosos começaram. ‘Você realmente acha que precisa comer mais um pedaço, querida?’ e ‘Nem vá ao provador. Esse tamanho não cabe em você, querida.’ e ‘Olhe, você não é nem muito bonita, nem muito inteligente querida, por isso precisa de aulas extras na escola.’. Os comentários maldosos me fizeram mal, e os cortes no meu pulso voltaram a ficar vermelhos e minha garganta começou a doer de novo.
Papai sempre me perguntava coisas do tipo ‘Porque você não está comendo direito?’ e ‘Porque demorou tanto no banho?’ E suas perguntas me abalavam cada vez mais, e por um descuido meu, um descuido bobo, minhas barreiras foram destruídas. Vivian descobriu sobre tudo, e contou para o meu pai. Veja bem, não era nada demais. Eu não fazia aquilo todo dia. Mas Vivian tornou isso uma grande coisa, e meu pai ficou realmente assustado. E foi ai que eu vi, o poder que aquela loira de olhos verdes tinha sobre o meu pai. Meu pai se preocupou tanto com a história, que eu não tive nem o direito da palavra, e fui internada em uma clínica de reabilitação. Por acaso eles não entendiam que eu não queria ficar ali?
Bom, agora o tempo passou. Eu saí da famosa rehab em três meses e voltei para casa, com o diagnóstico de bipolaridade e depressão, para receber não menos a notícia que eu teria um irmãozinho. Sim, eu teria um meio irmão em seis meses. Se eu estava feliz? Era outra história. E por causa dessa falta de felicidade, fui deportada para a casa dos meus avós, aqui mesmo, na Inglaterra. Agora eu tomava chá das quatro e tentava andar pelas ruas de Londres com trinta casacos.

***
As luzes matinais de Londres batiam levemente na minha janela, fazendo o meu quarto clarear aos poucos. Entenda: Londres não tem o sol que o Brasil tem. Muito pelo o contrário. Londres raramente era ensolarada. Abri meus olhos para receber a primeira segunda-feira sem aula, depois de tanto tempo tentando se adaptar na minha escola (lê-se preparatório para Harvard). Eu nunca fui a garota mais popular. Eu nunca foi a garota mais desejada. Eu nunca fui nada de especial na escola. Claro, eu mantinha minhas médias altas como era requisitado na escola, e a maioria dos professores me adoravam. Ok, eu podia ser chamada de nerd, mas eu não andava com os devidos nerds, então eu não me considerava uma. Claro, eu não era a solitária da escola. Eu andava com o meu grupo, mas amigos? Eu não tinha nenhum. Não depois do ‘incidente’.
Eu me sentei na cama e olhei para o meu celular, que tinha uma nova mensagem do meu pai: “Papai: Bom dia filha. Espero que suas férias sejam maravilhosas (;” Ok, meu pai acabou de me mandar uma carinha piscando. Aquilo deveria ser algo que eu deveria me preocupar, mas não agora, porque o cheiro das panquecas que subiam no meu nariz eram mais importantes.