That's Why Fireflies Flash
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That's Why Fireflies Flash
That's Why Fireflies Flash
Julho possuía, possivelmente, as noites mais gélidas de todos os anos quando tratava-se de Gramado. Na casa de Victória, porém, nem o fogão a lenha e seu calor reconfortante, ou mesmo o suave e doce som da chaleira d'água a aquecer-se por sobre a chapa escaldante eram capazes de aplacar o frio daquela noite em especial. Não para a garota que, vestindo seu pijama felpudo - e aquela sensação de estar de volta ao útero da mãe - sentia seu mundo desabar.
Não parecia real, mas sim, era real. Mais real do que qualquer coisa que ela já havia vivido. E apesar de a dor dilacerante a estar entorpecendo aos poucos, de qualquer maneira, ela estava lá. Cortando, mutilando Victória por dentro, de maneiras que ela nem sabia ser possível.
Um ano. Tão breve, tão misterioso como fora, naquela noite fazia um ano desde que tudo havia acabado. Era como começar uma história pelo final, uma sensação indescritível de estar fazendo algo completamente errado. Quem sabe tudo isso se devesse ao fato de faltar um pedaço da sua alma, o pedaço que ele levara embora quando se fora.
Um ano, e a noite estava tão gélida quanto aquela onde tudo começou a se perder. Parecia um pesadelo.
Infelizmente, não era.
1 ano antes.
Os passos de Victória ecoavam pelas calçadas brancas da geada que caíra durante o início da noite.
Eram 4h30min, e ela ainda não havia conseguido dormir. Encontrou-se em pé na porta da casa de Henrique. Mandou uma mensagem e esperou que seu amado acordasse para abrir-lhe a porta. Só que ela não pretendia entrar.
- Oi, amor! - disse o rapaz. - O que você pensa que está fazendo?
Henrique era alto e magro, mas não franzino. Tinha uma pinta no canto da boca que dava um charme especial ao rapaz. Com os cabelos castanhos claros, os olhos no mesmo tom e o sorriso encantador por debaixo dos lábios finos, era realmente um rapaz muito belo. Por sua vez, a baixinha e franzina Victória, com longos cabelos pretos e olhos verdes-esmeralda, chegava a parecer uma simples boneca ao lado do garoto.
- Henrique, eu... - iniciou a garota, tentando não perder a coragem, mas fora abraçada pelo namorado.
- Caramba, está muito frio aqui! Vamos entrar antes que você congele.
Ele a arrastou para dentro, e a garota seguiu sem relutar. Afinal, aquela seria, provavelmente, a última vez que pisaria naqueles degraus escorregadios.
Sentiu seu coração partir-se ao meio, mas estava decidida. Aquilo era o certo a se fazer. Ela simplesmente não podia prender a si alguém que não a amava.
- Escuta, Henrique... eu preciso falar com você, e tem que ser antes de eu sentar no sofá e você me abraçar como sempre acontece. - soltou a morena, tudo de uma vez, antes que pudesse ser interrompida.
Henrique manteve o silêncio, confuso. Não era uma atitude habitual de sua namorada.
- Eu... eu preciso terminar, Henrique.
Houve uma pausa, o rapaz olhando-a profundamente nos olhos.
- Você o que? - perguntou, descrente, por fim.
- Eu quero terminar. - uma lágrima correu pelo seu rosto. - Escuta: eu te amo mais do que pensei ser possível amar alguém. Você me completa de maneira que eu nem sabia que podia, me faz rir só de me olhar, me arranca sorrisos mesmo estando distante... é tudo que eu sempre sonhei, talvez até muito mais.
O rapaz respirou fundo, tentando absorver o que quer que fosse que a garota estava dizendo.
- Mas eu não sou cega, Henrique, nem cruel. - ela continuou, agora chorando muito. - Eu vejo que você não se sente da mesma maneira. Quando falo você simplesmente se perde em pensamentos alheios, e está se tornando cada vez mais ausente, mais cauteloso... não somos mais os mesmos, e parece que você me esconde algo, um segredo ao qual eu não sou capaz de decifrar. E eu não quero essa vida para nós, não quero que você permaneça comigo quando vejo claramente que seu coração não está em mim.
Uma lágrima rolou pelas faces pálidas de Henrique. Agora ele também chorava. Suas forças para dizer o que quer que fosse haviam simplesmente sumido sem deixar um mísero sinal.
- Sinto muito, meu amor. Sinto por não termos dado certo, por eu não conseguir ser para você tudo que sempre quis, por não ter conseguido te manter comigo... sinto tanto por tanta coisa, e agora não há mais conserto. O fato é que somos a coisa mais linda que eu já vivi, e não me arrependo de nada. Sou muito grata a você por isso.
E dando-lhe um último beijo, a garota abriu a porta que dava para a rua e saiu, em direção ao frio, deixando o namorado a sussurrar seu nome de maneira desconexa, perdida. Saiu chorando, sentindo-se morta e vazia por dentro, apenas um corpo a perambular sem destino.
Naquela noite, nenhum dos dois conseguiu dormir.
Passou-se uma semana desde o ocorrido, e sempre que os olhos dos dois chocavam-se, uma onda de dor insuportável assolava seu interior. Mas eles sorriam, afinal, tinham que manter as boas aparências para os amigos, responder "Estou bem, obrigado." e fingir que nada jamais aconteceu.
Era muito mais difícil do que parecia, e os dois sentiam dilacerarem-se apenas em pensar nessa possibilidade que, naquele momento, já tinha tornado-se real demais.
A melhor amiga de Victória, Jenny, percebeu que a amiga estava mal e resolveu levá-la para uma festinha. Uma noite de bebedeira, de comer porcarias e xingar a vida pelas rasteiras que levavam talvez fosse a melhor maneira de curá-la do sofrimento. E enquanto estava bebendo, mais por obrigação que por vontade própria, Vi recebeu uma mensagem no celular.
"Só o que sei sobre nós é que belas coisas nunca duram.
É por isso que vagalumes piscam.
Te amo para sempre."
É por isso que vagalumes piscam.
Te amo para sempre."
Pensou em responder, em pedir por que mandar uma mensagem depois de uma semana sem um mínimo contato, mas decidiu ser melhor deixar para lá. Se perguntasse, acabaria voltando atrás, e ela não queria isso. Então veio a ligação que desabaria seu mundo de uma vez por todas, que mudaria a maneira com a qual Victória compreendia o mundo.
O telefone caiu de sua mão na mesma velocidade em que o desespero assumia conta de seu corpo.
A garota pegou a jaqueta e, um tanto entorpecida pela bebida, chamou um taxi rumo ao hospital.
- Você é parente? - perguntou o homem de jaleco à sua frente. Aquele hospital fedia a álcool gel, desinfetante e medicamentos. A deixava enjoada.
- Eu sou namorada. - mentiu, sem querer que aquilo fosse exatamente uma mentira. - Como ele está, doutor? O que ele tem?
O homem a olhou docemente, mexendo em sua planilha de anotações.
- Pois bem, senhorita... Seu namorado está com Leucemia. Ele já sabia da existência dessa doença há mais ou menos quatro meses, e iniciou o tratamento imediatamente após o diagnóstico, mas infelizmente a medicação não surtiu efeito. Ele precisará passar por um tratamento muito mais pesado, e para ser sincero com a senhorita, não vai ser algo legal de ver.
A garota escorregou pela parede do hospital, caindo sentada no chão, aos prantos. O médico passou a mão em seus cabelos, tentando acalmá-la, mas aquilo só a lembrou mais de onde estava e do porquê de estar lá de verdade.
Era desalentador.
- Quando eu vou poder vê-lo? - perguntou, sem olhar para o rosto do homem a observá-la.
- Ele está dopado agora, mas se quiser entrar como acompanhante, tem acesso liberado. Quarto 47.
A garota levantou-se e correu por entre os corredores labirintais do local, até dar de cara com a porta de número 47. Abriu-a lentamente, cautelosamente, temendo ver algo que a chocasse demais e a abalasse a tal ponto que acabasse por perder o resto do autocontrole que ainda possuía.
Encarou o corpo deitado na cama de hospital, imóvel. Ele estava pálido, porém com uma aparência serena, doce como sempre. A garota passou os dedos por seu rosto suavemente, sentando-se na poltrona ao seu lado. E prometeu a si mesma que estaria naquele local quando ele abrisse os olhos, só para poder dizer que o amava e que jamais deixaria de amar.
Adormeceu esperando por aquele despertar.
Primeira parte tá aí.
A segunda sai amanhã já ^^
Beijoos, espero que estejam gostando.
E cá está a música, caso queiram ouvir. Eu aconselho muito, é linda!
Re: That's Why Fireflies Flash
Ohhh Juh, não acredito que você me fez chorar com um texto desse tamanho! Normalmente leva 2 ou 3 páginas pra eu deitar a primeira lágrima, mas aqui fiquei logo comovida... meu deus, como pode ser tão perfeito?
a música também ajudou a eu chorar, eu coloquei pra ouvir enquanto lia, então pronto...
Mas a história está muito linda, e tenho tanta pena do garoto! Afinal ele não estava ausente por já não querer nada com ela, estava sim pensando na sua doença e no pouco tempo que ainda tinha pra estar com a garota que amava... e ela vai e acaba tudo com ele. que tristeeee Juh!
aii posta logo a 2ª parte pra eu saber o que acontece a seguir, sim?
a música também ajudou a eu chorar, eu coloquei pra ouvir enquanto lia, então pronto...
Mas a história está muito linda, e tenho tanta pena do garoto! Afinal ele não estava ausente por já não querer nada com ela, estava sim pensando na sua doença e no pouco tempo que ainda tinha pra estar com a garota que amava... e ela vai e acaba tudo com ele. que tristeeee Juh!
aii posta logo a 2ª parte pra eu saber o que acontece a seguir, sim?
Jess Silver- Mensagens : 958
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Re: That's Why Fireflies Flash
Henrique sentiu-se estranho, deitado em uma cama que não era a sua, que não era a de Victória. Victória... a leve menção de seu nome já fez o rapaz sentir como se uma faca fosse apunhalada em seu coração e acalcada cada vez mais, cavando cada vez mais profundamente. Sentia que a faca poderia atravessá-lo a qualquer momento.
Tirou seus pensamentos da garota, tentando aplacar um pouco a dor.
Afinal, onde estava? Ainda sem abrir os olhos, Henrique tentou lembrar de algo, qualquer coisa, que o ajudasse a adivinhar ou pelo menos recordar de leve onde se encontrava. Desistindo, deixou que a luz suave do quarto machucasse sua visão, e assim que suas pupilas ajustaram-se à iluminação artificial, o rapaz pegou-se encarando um teto branco. Num quarto branco.
Encarou os braços, cheios de mangueiras e fios, e lembrou-se: estava em um hospital.
Leucemia. Okay, não era melhor do que não lembrar-se de nada.
Sentou-se, sentindo a dor no corpo todo. Não deveria estar fazendo aquilo, mas não aguentava mais ficar parado. Acordara do que parecia ser o sono de uma eternidade.
Olhou ao seu redor. Um calendário indicava que dormira por três dias. Uma bandeja, trazendo uma maçã, um copo de suco quase vazio, duas bolachas e metade de um sanduíche, repousava por sobre uma mesinha ao lado de seu leito. Continuou sondando o quarto, ainda meio tonto, até ouvir o som de um respirar. Então virou-se para o outro lado, dando-se de cara com uma garota caída e abatida, dormindo como que pela primeira vez nos últimos dois meses. Um livro estava sobre seu colo, e sua poltrona estava encostada na parede da janela, voltada para o leito.
Ah, Victória. O que ele havia feito com ela?
Estava de cabelos presos em um coque frouxo, descabelado, com o rosto pálido e olheiras severas a marcar-lhe o rosto incrivelmente belo. Não usava maquiagem, estava com as roupas amassadas, e ainda assim seu perfume era sentido do local onde Henrique estava.
Nunca a vira tão machucada.
A garota suspirou novamente, e seus olhos começaram a abrir-se lentamente. A luz branca também a cegou novamente, e quando a visão já acostumava-se à claridade, viu algo que julgou ser um sonho.
- Ah, Henrique! - deixou escapar por entre os lábios, enquanto jogava-se em cima do rapaz, beijando-o docemente. - Eu achei que você não fosse voltar, fiquei tão preocupada... Por que não me contou? Por que, naquela noite, você não disse a verdade?
O moreno passou um dedo pela face rosada de Victória, secando a lágrima que escorria pela mesma.
- Eu pensei nisso, amor. É só que tinha esperanças de que assim, se deixasse que você pensasse que não te amava mais, quando eu morresse sua dor seria menor. E eu não queria te ver sofrer. Não quando estou tão perto do fim... só queria lembrar de ti sorridente como sempre. - ele fez uma pausa, beijando-lhe de leve os lábios. - O sorriso mais lindo que eu já vi.
- Você não vai morrer, Henrique. Eu não vou deixar, nós vamos superar isso juntos.
- Não vamos, meu anjo. Mas fico feliz em te ver tentar, mesmo assim. Não há ninguém que eu queira mais desperdiçando esforços ao meu lado.
Victória pensou em discutir, mas na verdade não quera fazê-lo. Esperara três dias para ver o rapaz acordar-se, simplesmente queria beija-lo e dizer que o amava.
O rapaz era empurrado na cadeira de rodas pelos corredores da escola. Já calvo e enfraquecido, Henrique odiava a ideia de ver Victória - ou a versão enfraquecida e tristonha dela - auxiliando-o em cada afazer que era antes feito pelo rapaz sem a menor dificuldade. E mesmo assim, Vi insistia em ajudá-lo, talvez por que quisesse passar cada segundo com ele.
Talvez temesse a morte de Henrique tanto quanto o próprio.
Por muitas vezes, o rapaz fora parar no hospital por conta de desmaios e crises causadas pelos remédios. Durante todas essas vezes, a morena estava lá, o acompanhando, e toda vez que ele acordava no mesmo leito de hospital, a garota parecia menor e mais frágil sentada na poltrona ao seu lado.
Chegou em casa abatido, mas ainda assim feliz. Estava com Victória, não era?
- Vi, pode vir aqui um segundo?
Ela saiu da cozinha com um copo d'água e um remédio em mãos, e os deu para o namorado, que tomou-os sem hesitar.
- O que foi, amor?
- Senta no meu colo por um instante?
A garota sentou-se, e Henrique tirou do bolso uma caixinha de veludo preta, abrindo-a. Uma aliança.
- Eu não deveria fazer isso, sei que não. Mas te amo demais para perder a única chance que terei. Victória, eu te amo. Se me pedisse para gritar para a cidade toda o quanto te amo, eu assim o faria, por que você é a coisa mais bela que já aconteceu em toda minha vida, e sei que se vivesse mais duzentos anos, isso jamais mudaria.
Henrique fez a namorada olha-lo no fundo dos olhos e, pegando sua mão, colocou-la no dedo o anel.
- Eu não posso esperar para pedir isso a você, Victória. Casa comigo?
A garota começou a chorar. Beijando os lábios do rapaz como se jamais fosse soltar, por alguns instantes, ela foi inteiramente feliz. Esqueceu dos problemas, da situação e do risco de perder o amor da sua vida a qualquer instante. Foi feliz como sempre fora, quando estivera nos braços do rapaz.
Talvez fosse efeito dos remédios.
A garota olhava para a reluzente aliança na sua frente, pesando em seu dedo. As inscrições "That's Why Fireflies Flash" não faziam sentido, jamais fizeram. Era o trecho de uma música, um sms que ele a mandou, e nada mais. Mas, de alguma maneira, o simples fato de ter sido ele a escolhê-la já a tornava a coisa mais bela que Victória já havia lido.
Mas elas fariam sentido naquela mesma noite, assim que atendesse o telefone.
Eram 4h da manhã quando o celular começou a vibrar no criado-mudo em um ritmo frenético. A garota acordou assustada, esfregando os olhos insistentemente. Ainda dormindo, pegou o aparelho e cegou-se pela luz que ele emitiu. Atendeu-o mesmo assim.
- Victória?
Ela não reconheceu a voz que a chamava pelo nome do outro lado da linha.
- Q-quem fala?
- Vi, é a Sofia. A irmã do Henrique.
Então ela entendeu o motivo por não reconhecer a voz. Sofia estava chorando.
- Ah Meu Deus, em que hospital ele está, Sofi? Eu estou levantando aqui, te encontro lá e...
- Não, Victória. Fica deitada.
A garota estranhou. Como Sofia achava que ela poderia ficar deitada enquanto seu noivo estava em um leito hospitalar?
- Vi... ele morreu. - a voz da garota falhou no final. - Ele se foi, Vi.
O celular caiu de sua mão, e ela jogou-se na cama novamente, chorando. Ouviu a voz de Sofia chamando-a insistentemente ao telefone, mas não o retomou em momento algum. Seu mundo, naquele momento, havia dado pausa.
Quem sabe nunca mais voltasse.
O velório e o enterro aconteceram nos dois dias que se seguiram. A pequena capela mortuária lotou de pessoas que faziam questão de prestar suas homenagens à pessoa maravilhosa que Henrique fora. E durante esse tempo todo, Victória permaneceu ao lado do caixão.
Ao fechar o local onde o caixão fora depositado, por fim, todos acabaram despedindo-se do local, um por um. Por fim, só restavam em frente ao túmulo duas pessoas: Victória e Sofia.
- Vi... você está bem?
- Não, Sofia, estou tão mal quanto você... mas sabe, não consigo mais chorar. Acho que há uma cota de lágrimas que podemos derramar por dia.
-Ele... pediu para entregar isso. - disse a garota, entregando uma carta para Victória. - Sabe, no caminho do hospital. Disse que estava pronta desde sempre, esperando pelo momento para ser entregue.
Victória abriu e começou a ler em voz alta, enquanto gradativamente lhe voltavam as lágrimas aos olhos.
As duas ficaram em silêncio, sem saber o que dizer, chorando de maneira copiosa.
- Tenho que ir ver minha mãe no hospital, Vi. Tem certeza de que ficará bem?
- Tenho, pode ir. Obrigada.
Sofia começou a dirigir-se à saída, mas parou no caminho.
- Victória, me obrigo a perguntar: por que você passou o velório todo ao lado do caixão?
- Eu não o abandonei em momento algum, por que o abandonaria no fim? Pelo menos eu sei que fiquei ao seu lado até o último segundo.
E ouvindo isso, Sofia sorriu tristemente e se foi.
E Victória ficou em pé, em frente ao túmulo frio de pedra. Foi onde a aliança fez todo o sentido.
Foi onde ela deixou um pedaço de si.
Tirou seus pensamentos da garota, tentando aplacar um pouco a dor.
Afinal, onde estava? Ainda sem abrir os olhos, Henrique tentou lembrar de algo, qualquer coisa, que o ajudasse a adivinhar ou pelo menos recordar de leve onde se encontrava. Desistindo, deixou que a luz suave do quarto machucasse sua visão, e assim que suas pupilas ajustaram-se à iluminação artificial, o rapaz pegou-se encarando um teto branco. Num quarto branco.
Encarou os braços, cheios de mangueiras e fios, e lembrou-se: estava em um hospital.
Leucemia. Okay, não era melhor do que não lembrar-se de nada.
Sentou-se, sentindo a dor no corpo todo. Não deveria estar fazendo aquilo, mas não aguentava mais ficar parado. Acordara do que parecia ser o sono de uma eternidade.
Olhou ao seu redor. Um calendário indicava que dormira por três dias. Uma bandeja, trazendo uma maçã, um copo de suco quase vazio, duas bolachas e metade de um sanduíche, repousava por sobre uma mesinha ao lado de seu leito. Continuou sondando o quarto, ainda meio tonto, até ouvir o som de um respirar. Então virou-se para o outro lado, dando-se de cara com uma garota caída e abatida, dormindo como que pela primeira vez nos últimos dois meses. Um livro estava sobre seu colo, e sua poltrona estava encostada na parede da janela, voltada para o leito.
Ah, Victória. O que ele havia feito com ela?
Estava de cabelos presos em um coque frouxo, descabelado, com o rosto pálido e olheiras severas a marcar-lhe o rosto incrivelmente belo. Não usava maquiagem, estava com as roupas amassadas, e ainda assim seu perfume era sentido do local onde Henrique estava.
Nunca a vira tão machucada.
A garota suspirou novamente, e seus olhos começaram a abrir-se lentamente. A luz branca também a cegou novamente, e quando a visão já acostumava-se à claridade, viu algo que julgou ser um sonho.
- Ah, Henrique! - deixou escapar por entre os lábios, enquanto jogava-se em cima do rapaz, beijando-o docemente. - Eu achei que você não fosse voltar, fiquei tão preocupada... Por que não me contou? Por que, naquela noite, você não disse a verdade?
O moreno passou um dedo pela face rosada de Victória, secando a lágrima que escorria pela mesma.
- Eu pensei nisso, amor. É só que tinha esperanças de que assim, se deixasse que você pensasse que não te amava mais, quando eu morresse sua dor seria menor. E eu não queria te ver sofrer. Não quando estou tão perto do fim... só queria lembrar de ti sorridente como sempre. - ele fez uma pausa, beijando-lhe de leve os lábios. - O sorriso mais lindo que eu já vi.
- Você não vai morrer, Henrique. Eu não vou deixar, nós vamos superar isso juntos.
- Não vamos, meu anjo. Mas fico feliz em te ver tentar, mesmo assim. Não há ninguém que eu queira mais desperdiçando esforços ao meu lado.
Victória pensou em discutir, mas na verdade não quera fazê-lo. Esperara três dias para ver o rapaz acordar-se, simplesmente queria beija-lo e dizer que o amava.
O rapaz era empurrado na cadeira de rodas pelos corredores da escola. Já calvo e enfraquecido, Henrique odiava a ideia de ver Victória - ou a versão enfraquecida e tristonha dela - auxiliando-o em cada afazer que era antes feito pelo rapaz sem a menor dificuldade. E mesmo assim, Vi insistia em ajudá-lo, talvez por que quisesse passar cada segundo com ele.
Talvez temesse a morte de Henrique tanto quanto o próprio.
Por muitas vezes, o rapaz fora parar no hospital por conta de desmaios e crises causadas pelos remédios. Durante todas essas vezes, a morena estava lá, o acompanhando, e toda vez que ele acordava no mesmo leito de hospital, a garota parecia menor e mais frágil sentada na poltrona ao seu lado.
Chegou em casa abatido, mas ainda assim feliz. Estava com Victória, não era?
- Vi, pode vir aqui um segundo?
Ela saiu da cozinha com um copo d'água e um remédio em mãos, e os deu para o namorado, que tomou-os sem hesitar.
- O que foi, amor?
- Senta no meu colo por um instante?
A garota sentou-se, e Henrique tirou do bolso uma caixinha de veludo preta, abrindo-a. Uma aliança.
- Eu não deveria fazer isso, sei que não. Mas te amo demais para perder a única chance que terei. Victória, eu te amo. Se me pedisse para gritar para a cidade toda o quanto te amo, eu assim o faria, por que você é a coisa mais bela que já aconteceu em toda minha vida, e sei que se vivesse mais duzentos anos, isso jamais mudaria.
Henrique fez a namorada olha-lo no fundo dos olhos e, pegando sua mão, colocou-la no dedo o anel.
- Eu não posso esperar para pedir isso a você, Victória. Casa comigo?
A garota começou a chorar. Beijando os lábios do rapaz como se jamais fosse soltar, por alguns instantes, ela foi inteiramente feliz. Esqueceu dos problemas, da situação e do risco de perder o amor da sua vida a qualquer instante. Foi feliz como sempre fora, quando estivera nos braços do rapaz.
Talvez fosse efeito dos remédios.
A garota olhava para a reluzente aliança na sua frente, pesando em seu dedo. As inscrições "That's Why Fireflies Flash" não faziam sentido, jamais fizeram. Era o trecho de uma música, um sms que ele a mandou, e nada mais. Mas, de alguma maneira, o simples fato de ter sido ele a escolhê-la já a tornava a coisa mais bela que Victória já havia lido.
Mas elas fariam sentido naquela mesma noite, assim que atendesse o telefone.
Eram 4h da manhã quando o celular começou a vibrar no criado-mudo em um ritmo frenético. A garota acordou assustada, esfregando os olhos insistentemente. Ainda dormindo, pegou o aparelho e cegou-se pela luz que ele emitiu. Atendeu-o mesmo assim.
- Victória?
Ela não reconheceu a voz que a chamava pelo nome do outro lado da linha.
- Q-quem fala?
- Vi, é a Sofia. A irmã do Henrique.
Então ela entendeu o motivo por não reconhecer a voz. Sofia estava chorando.
- Ah Meu Deus, em que hospital ele está, Sofi? Eu estou levantando aqui, te encontro lá e...
- Não, Victória. Fica deitada.
A garota estranhou. Como Sofia achava que ela poderia ficar deitada enquanto seu noivo estava em um leito hospitalar?
- Vi... ele morreu. - a voz da garota falhou no final. - Ele se foi, Vi.
O celular caiu de sua mão, e ela jogou-se na cama novamente, chorando. Ouviu a voz de Sofia chamando-a insistentemente ao telefone, mas não o retomou em momento algum. Seu mundo, naquele momento, havia dado pausa.
Quem sabe nunca mais voltasse.
O velório e o enterro aconteceram nos dois dias que se seguiram. A pequena capela mortuária lotou de pessoas que faziam questão de prestar suas homenagens à pessoa maravilhosa que Henrique fora. E durante esse tempo todo, Victória permaneceu ao lado do caixão.
Ao fechar o local onde o caixão fora depositado, por fim, todos acabaram despedindo-se do local, um por um. Por fim, só restavam em frente ao túmulo duas pessoas: Victória e Sofia.
- Vi... você está bem?
- Não, Sofia, estou tão mal quanto você... mas sabe, não consigo mais chorar. Acho que há uma cota de lágrimas que podemos derramar por dia.
-Ele... pediu para entregar isso. - disse a garota, entregando uma carta para Victória. - Sabe, no caminho do hospital. Disse que estava pronta desde sempre, esperando pelo momento para ser entregue.
Victória abriu e começou a ler em voz alta, enquanto gradativamente lhe voltavam as lágrimas aos olhos.
Victória
Eu te amo demais, e para onde quer que eu vá, isso jamais mudará.
Esse tempo que vivi junto a ti foi a coisa mais bela que já presenciei, que tive a honra de viver.
Para onde quer que eu vá, só há uma coisa que sei sobre nós:
As coisas belas nunca duram para sempre.
The beautiful things never last, and that's why fireflies flash.
Jamais te esquecerei.
Eternamente teu, Henrique.
Eu te amo demais, e para onde quer que eu vá, isso jamais mudará.
Esse tempo que vivi junto a ti foi a coisa mais bela que já presenciei, que tive a honra de viver.
Para onde quer que eu vá, só há uma coisa que sei sobre nós:
As coisas belas nunca duram para sempre.
The beautiful things never last, and that's why fireflies flash.
Jamais te esquecerei.
Eternamente teu, Henrique.
As duas ficaram em silêncio, sem saber o que dizer, chorando de maneira copiosa.
- Tenho que ir ver minha mãe no hospital, Vi. Tem certeza de que ficará bem?
- Tenho, pode ir. Obrigada.
Sofia começou a dirigir-se à saída, mas parou no caminho.
- Victória, me obrigo a perguntar: por que você passou o velório todo ao lado do caixão?
- Eu não o abandonei em momento algum, por que o abandonaria no fim? Pelo menos eu sei que fiquei ao seu lado até o último segundo.
E ouvindo isso, Sofia sorriu tristemente e se foi.
E Victória ficou em pé, em frente ao túmulo frio de pedra. Foi onde a aliança fez todo o sentido.
Foi onde ela deixou um pedaço de si.
~~*~~*~~*~~
E era isso.
Espero que tenham gostado do que leram.
Beijoos e até a próxima, e obrigada por gastarem seu tempinho lendo.
Re: That's Why Fireflies Flash
Fico feliz - eu acho - por ter te comovido no começo já. s2Jess Silver escreveu:Ohhh Juh, não acredito que você me fez chorar com um texto desse tamanho! Normalmente leva 2 ou 3 páginas pra eu deitar a primeira lágrima, mas aqui fiquei logo comovida... meu deus, como pode ser tão perfeito?
a música também ajudou a eu chorar, eu coloquei pra ouvir enquanto lia, então pronto...
Mas a história está muito linda, e tenho tanta pena do garoto! Afinal ele não estava ausente por já não querer nada com ela, estava sim pensando na sua doença e no pouco tempo que ainda tinha pra estar com a garota que amava... e ela vai e acaba tudo com ele. que tristeeee Juh!
aii posta logo a 2ª parte pra eu saber o que acontece a seguir, sim?
Que bom que gostou, meu anjo! sério, fico mega feliz em saber que uma escritora de tanto talento quanto você gostou do que eu escrevi!
Muito obrigada por ler e comentar, aliás. Amo seus comentários, sempre me dando forças pra mais uma. s2
Isso pegou até ela de surpresa, aliás. Coitados.
Já postei alí, meu anjo, pode ficar tranquila.
Beijoos, e obrigada novamente.
Re: That's Why Fireflies Flash
chorando baba e ranho aqui de ler algo tão lindo e tão romântico, e ao mesmo tempo tão triste! ele morreu, coitadinho... custou mesmo viu Juh, porque eles se amavam e no final ela nem esteve lá pra se despedir dele :'x
acho que essa frase, "That's why fireflies flash", vai ficar marcada para sempre com essa sua história linda. Muitos parabéns por ela, amor, e muito obrigada por partilhar connosco!
acho que essa frase, "That's why fireflies flash", vai ficar marcada para sempre com essa sua história linda. Muitos parabéns por ela, amor, e muito obrigada por partilhar connosco!
Jess Silver- Mensagens : 958
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Re: That's Why Fireflies Flash
que bom que gostou, meu anjo s2Jess Silver escreveu:chorando baba e ranho aqui de ler algo tão lindo e tão romântico, e ao mesmo tempo tão triste! ele morreu, coitadinho... custou mesmo viu Juh, porque eles se amavam e no final ela nem esteve lá pra se despedir dele :'x
acho que essa frase, "That's why fireflies flash", vai ficar marcada para sempre com essa sua história linda. Muitos parabéns por ela, amor, e muito obrigada por partilhar connosco!
sim cara, eu exagerei no drama dessa. kk' mas né, faz parte.
e eu que agradeço por ter lido e comentado, Jess. Sem seu apoio, minhas histórias nunca seriam as mesmas, jamais.
obrigada mesmo, viu? amucê
Re: That's Why Fireflies Flash
[quote="JuhSalvatore"][quote="Jess Silver"][color=olive]chorando baba e ranho aqui de ler algo tão lindo e tão romântico, e ao mesmo tempo tão triste! ele morreu, coitadinho... custou mesmo viu Juh, porque eles se amavam e no final ela nem esteve lá pra se despedir dele :'x
acho que essa frase, "That's why fireflies flash", vai ficar marcada para sempre com essa sua história linda. Muitos parabéns por ela, amor, e muito obrigada por partilhar connosco![/color][/quote]
que bom que gostou, meu anjo s2
sim cara, eu exagerei no drama dessa. kk' mas né, faz parte.
e eu que agradeço por ter lido e comentado, Jess. Sem seu apoio, minhas histórias nunca seriam as mesmas, jamais.
obrigada mesmo, viu? amucê[/quote]
exagerou nada, continua sempre sendo a diva da escrita que você é, porque o faz melhor do que muita gente! muitos parabéns mais uma vez pela história! e claro que vou continuar lendo e acompanhando, nem podia ser de outra maneira, adoro suas histórias!
oooooun't querida, te adoro também, muitos beijos!
acho que essa frase, "That's why fireflies flash", vai ficar marcada para sempre com essa sua história linda. Muitos parabéns por ela, amor, e muito obrigada por partilhar connosco![/color][/quote]
que bom que gostou, meu anjo s2
sim cara, eu exagerei no drama dessa. kk' mas né, faz parte.
e eu que agradeço por ter lido e comentado, Jess. Sem seu apoio, minhas histórias nunca seriam as mesmas, jamais.
obrigada mesmo, viu? amucê[/quote]
exagerou nada, continua sempre sendo a diva da escrita que você é, porque o faz melhor do que muita gente! muitos parabéns mais uma vez pela história! e claro que vou continuar lendo e acompanhando, nem podia ser de outra maneira, adoro suas histórias!
oooooun't querida, te adoro também, muitos beijos!
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