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Mensagem por quartzo Dom Jan 06, 2013 2:03 pm

Olá Smile Há uma semana comecei a escrever uma historinha a fim de treinar a escrita e o vocabulário.

Cores é inspirada no livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do eterno Machado de Assis. A narradora, durante seu velório no quintal de sua casa, começa a refletir sobre sua vida, marcando a imagem da mãe, da avó, do pai e dos amigos. A jovem artista, que amava pintar quadros coloridos, morre aos 18 anos em um acidente de carro, após visualizar pela última vez a imagem da pessoa mais importante de sua vida.

Como dá pra perceber, já tenho toda a história em mente, só falta construí-la. Como eu preciso de críticas e sugestões, já vou publicando um pedacinho:

*No dia de meu velório, a casa estava coberta por flores. Ao contrário do que se possa presumir, não fui sepultada em um cemitério sombrio e triste. Fui enterrada debaixo da árvore que costumava ilustrar paisagens. A mesma árvore que escalava e brincava com o gatinho Kowalski quando tinha dez anos. Era o cenário de outono mais florido que já vi. O crepúsculo avermelhado contrastava com as nuvens roxas no horizonte. As pessoas, o caixão, a tumba, tudo era uma sombra diante daquele céu de cor vibrante e deslumbrante, ironicamente igual às minhas obras de adolescente. Cobriram a árvore com arranjos de gardênias, até o restante de suas folhas. Haviam algumas espalhadas pelo chão, juntamente de algumas folhas secas que já anteciparam-se em cair das árvores naquele ano. A casa continha flores por todos os lados, nos pilares, nas varandas, nas janelas, no telhado. As pétalas voavam. Foi tudo tão lindo que mais parecia um casamento. Minha mãe não chorava. Estava conformada com a vontade divina, ao contrário de minhas tias, que tinham seus olhos secos e avermelhados, com um fundo de rancor, já exaustos das lágrimas que insistiam em cair. Caíam junto de seus sonhos, suas lembranças, seus atos, levando consigo, pouco a pouco, parte de suas almas.
*Minha mãe estava linda, como havíamos combinado dias antes de morrer. Me prometera que usaria o vestido de ceda rosada com renda francesa, que meu pai havia lhe trazido de Paris. Até mesmo em seus cabelos loiros claríssimos, longos, cheios de cachos, estavam as gardênias, arranjadas em uma coroa. Ela não queria que eu fosse enterrada e, de fato, eu também não. Quando eu tinha treze anos, estava no chalé de minha avó Cidália, saboreando os biscoitos de nata das mais estranhas formas, frutos de uma escultora mal sucedida. Meu primeiro passo para a maturidade prematura foi o seguinte discurso:
* - Quando eu morrer, quero que doem todos os meus órgãos, vendam os meus cabelos, usem o resto para as pesquisas científicas. E se, ainda assim, sobrar algo que não possa ser usado, queime, e jogue minhas cinzas pelo vento, para que eu possa eternizar-me no mundo.
*O fato de uma criança de treze, treze ou já quatorze anos afirmar esse tipo de coisa, com estas palavras, não assombraram minha avó. O que lhe feriu profundamente foi o afrontamento às tradições familiares. Todos tinham de ser enterrados no cemitério da cidade, com um retrato em uma armação de prata, para que todos dali pudessem ver que mais um Dubois havia falecido, para que tivessem, acima de tudo, ciúmes até mesmo do túmulo, que deveria ser desenhado por um artista francês famoso, em arte gótica. Já eu, naquela idade, pensava que mais valia doar o dinheiro gasto a alguma casa, para uma instituição de caridade, o que fosse.
*Infelizmente, minha mãe não venceu a maioria. Tive de ser enterrada. Graças a meu pai, fui sepultada no quintal feliz de minha casa, mas aqui estou eu, do lado de meu corpo aconchegado em um caixão, vindo da França, colocado em um túmulo gótico, todo em calcário. Minha avó e minhas tias choram em cima de meu corpo e falam com ele como se eu ainda estivesse ali. Meus primos correm pelo pátio, e minha mãe está serena. É como se ela me sentisse ali e soubesse que, mesmo não estando feliz em ver uma sepultura debaixo de minha árvore favorita, estou em paz.
*Foi então que comecei a relembrar e refletir os momentos mais marcantes da minha vida, buscando dentro de mim mesma uma razão para que fossem tão importantes.
*Em 1960, o verão foi inesquecível. Estava passando uns meses na cada de minha avó Cidália, em uma fazenda perto de Rio Pardo. Havia diversos animais naquela fazenda, mas meu preferido era o galo Rodolfo. Não sei porque ele tinha aquele nome, mas tinha cor de fênix. Ele também tinha um gênio meio autoritário com suas galinhas. Sempre quando elas estavam comendo milhos, ele ficava nas redondezas, marcando território. Era um lugar muito limpo e bonito apesar do celeiro, cheio de araucárias, jabuticabeiras e os "jardins da Babilônia", como minha avó costumava chamá-los. Mas eu não poderia descrever o local nem os fatos decorrentes daquele verão sem antes descrever a figura de dona Cidália.
*Minha avó nasceu em 1901, na primavera quente do Rio de Janeiro. Era extremamente católica e francesa. Seus pais, Paulette e Yannick vieram da França em 1898 para estabelecer vida no Brasil, o que sempre achei muito estranho quando fiquei mais velha e mais curiosa. Este país costumava receber imigrantes italianos e espanhóis. O motivo pelo qual minha família veio pra cá não é muito sabido nem mesmo pelos membros mais antigos, como minha avó Cidália, mas foram estranhamente muito bem recebidos e reconhecidos pela alta sociedade carioca. Voltando às definições de minha avó, recebeu esta o nome de Cidália, brasileiríssimo, como homenagem ao novo lar. Foi uma jovem deslumbrantemente delicada e culta. Havia sido educada juntamente de suas outras três irmãs, com governanta, livros de romances e poesias, aulas artísticas de piano e pintura, além de aulas de português e francês. Sempre foi a filha mais bonita, a mais mimada, a mais educada, inteligente e talentosa. Suas outras irmãs, Amelie, Scarlett e Charlotte não tiveram os mesmos privilégios, apesar da educação ter sido a mesma. Seus nomes eram igualmente de origem francesa, tinham aulas de piano, artes e línguas, mas não recebiam os mesmos elogios da irmã.
*Aos dezoito anos, Cidália e seus longos cabelos louros pálidos deslizavam pelo mundo como uma leve pluma voa pelo vento. Pintava quadros que sempre recebiam destaque na sala da grande casa. Por ser a mais velha, participou mais cedo das reuniões em família e entre amigos, entendia dos assuntos da política e dos conflitos que ocorriam mundo a fora. Como em 1919 as mulheres não tinham muita voz para esse assuntos, ficava restrita aos comentários da igreja, e de vez em quando, contava alguma história relacionada aos quadros e pinturas que fazia. Em outubro daquele ano, um acontecimento marcou sua vida: viera da França seu futuro marido. Aos quinze anos, quando minha avó leu o primeiro romance, que se bem me lembro, falava de um escultor apaixonado da grande Paris de 1720, ambicionou tornar-se também escultura, criar obras sacras para a igreja, ter um monumento em frente à praça, viajar para vários lugares e atender a pedidos de fregueses sedentos de talento. Este sonho alimentava cada parte de seu ser, cada brilho de sua alma. No fundo de seus olhos, azuis como o céu, tinha uma bola de cristal que ilustrava uma jovem linda, que passava por paris e tocava em cada estátua como se fosse uma parte de si. Ao cruzarem pela primeira vez com os olhos negros de Didier, a bola de cristal partiu-se em inúmeros pedaços, cortando profundamente cada parte de sua alma. Escureceram. Nunca mais esboçou nenhum sorriso, nunca mais acariciou nenhuma mão, nunca mais pintou um quadro. Pintou um. Era uma menina com olhos negros e trajes mais ainda, rosto pálido e atrás uma janela vazia. O quadro lembrava muito o de Mona Lisa, escuro e sombrio, a diferença é que quando nós olhamos para Mona Lisa, por mais escuro que seja o cenário ao seu redor, seu singelo sorriso ilumina-o e nos lança um raio de luz, diferentemente do quadro que minha avó pintou, que quanto mais tempo olhássemos para ele, mais velhos sentíamo-nos.
*Nas frias tardes de outono, quando ela vinha nos visitar, sempre me contava um pouco do dia de seu casamento. Uma vez inclusive mostrou-me seu vestido. Logo pude imaginá-la dentro daquele vestido de ceda branca, rico em detalhes, com uma longa cauda deslizando sobre o tapete vermelho da igreja. Usava muitos diamantes, a maioria eram jóias de sua mãe. Imagino até hoje como estaria seu rosto branco de porcelana, seus cabelos louros, seus olhos azuis, já negros. Seu rosto é fácil de imaginar. Nunca a vi sorrindo, sempre com o aspecto sério e fechado, imagino que estivesse assim no dia. A pobreza de detalhes em suas histórias deixa brechas para que a imaginação possa fluir. Costumo sempre imaginar cada dia de minha avó como um julgamento, pois foi exatamente de tal maneira que a vi levar a vida durante todos estes anos. Não culpo meu avô pela morte espiritual dela, um senhor tão contente e confiante. Minha mãe sempre me dizia o quanto era carinhoso com ela e minha avó. Minha avó morreu em outubro de 1919, e seu corpo ambulante não permitiu que meu avô pudesse tentar revivê-la. Os olhos de minha avó são profundamente mortos. O olhar de desdém nos deixa tristes, na expectativa de que eles caiam do rosto. Posso imaginar a cena se eles caíssem, minha avó se abaixaria, buscaria-os e com movimentos involuntários, arranjá-los-ia no rosto novamente, tornando a fazer o que tivesse sido interrompido pelo momento. A única explicação que encontro pelo pessimismo e melancolia esboçados por ela durante todos estes anos é este.
*Voltando à fazenda e sua natureza mística, lembro-me de que ainda é importante contar o motivo da mudança de meus avós para cá. Ela e meu avô Didier saíram do Rio de Janeiro em 1921, com minha avo já grávida de minha mãe. Meu avô sempre teve o sonho de ter uma fazenda em um lugar calmo, criar galos e galinhas, vacas, cavalos, e tudo o que fosse possível dentro de um pedaço de terra. Rio grande do Sul sempre foi sinônimo de fazenda. Talvez pelas tradições gaúchas, a bombacha, o chimarrão, os desfiles, os churrascos. As grandes plantações de arroz. Não levou muito e meu avô apoderou-se de um pedaço de terra.
*Didier nasceu em 1895, na França. Vivia em uma fazenda junto com seus avós. Por falta de interesse por parte de minha avó e pela falta de liberdade de minha mãe para sentar e conversar com seu próprio pai, não sei ao certo como meu avô enriqueceu e veio para o Brasil. Só o que sei é que sempre foi feliz. Aos 24 anos, ao ver pela primeira vez aquela dama de porcelana sentada no sofá estofado da sala, com um pingente dourado com a inicial "A", sentiu-se perdido no mundo. Não sabia como tinha vindo e nem qual o propósito que tinha. Só o que sabia é que estava diante de um ser divino. São conclusões que minha própria avó teceu ao longo dos anos enquanto casada com meu avô. Não duvido que ela sentisse a conexão que havia entre vovô e tia Amelie, também não sei se isso é fruto da morte interna dela, sempre buscando motivos para deixar sua vida em uma perspectiva cada vez pior.
*Suponhamos que de fato, meu avô tenha visto tia Amelie e desejado-a prontamente, não retiro dele a característica de avô aventureiro que sempre contava histórias. Não contarei como ele construiu a fazenda, pois custaria umas boas horas, e pretendo findar minha reflexão antes que fechem minha tumba, mas devo dizer que no instante em que ergueu o último tijolo da casa, a tuberculose o atacou, levando-o para perto de Deus. Eu era muito pequena quando ele faleceu em 1953, mas minha mãe me dizia que tia Amelie chorou mais do que minha avó. Ouso dizer que talvez ela tenha se sentido livre.
*Como contava anteriormente, no verão de 60 estava na casa de vovó Cidália, juntamente de mamãe e tia Amélie, que havia voltado de Paris com muitas novidades em roupas e porcelanas. As duas semanas que passaram foram...
Já que o quote não marca os parágrafos, resolvi então representá-los por asteriscos.
Bom, sintam-se à vontade para criticar e dar sugestões Smile bjãao!
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Mensagem por Thomas Cale Qui Abr 04, 2013 9:19 pm

É realmente uma narrativa fantástica..

Thomas Cale

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