As Desvantagens de Sentir

- Sabe o que é divertido em você, Stefan? - dizia a loira, enquanto girava ao ritmo de Wanted Dead or Alive. - Você quer fingir que sentir não atrapalha sua vida, mas a verdade é que, no fundo, é só mais um frustrado, chorão. Só tem vergonha de admitir.

O rapaz estava sentado em cima da mesa onde seria colocado o ponche, caso o baile realmente tivesse acontecido. Encarava uma Rebekah rodopiante como que hipnotizado por seus giros, que nada tinham de especiais.

- Acontece, Senhorita Mikaelson, que eu não tento fingir que não atrapalha. Eu apenas olho as coisas positivas de sentir. - disse ele, pulando do local e aparecendo, instantaneamente, ao lado dela. - Por exemplo: quando você sente, tudo e absolutamente tudo se propaga, se aumenta. Cada sentimento. Entre eles, a felicidade, o orgulho, o amor que te consome por dentro...

- E foi isso - principiou-se ela, interrompendo. - que te fez sofrer pela Elena. E antes, pela Katherine. Esse "amor que te consome". Qual a vantagem nisso?

Stefan a beijou, mantendo-a sem reação por alguns minutos. Quem precisava parar, quando respirar não era necessário? Mas fora precisa uma força descomunal para não permitir que aquilo se transformasse em "algo mais".

- Se você sentisse, Rebekah, isso seria muito mais empolgante. Seria quase como ser... humano.

- Eu queria ser humana novamente, Stefan. Envelhecer, ter filhos, ir às compras... se sentir satisfeita comendo apenas uma boa e velha pizza. Vale a pena sentir tudo o que a vida tem a te oferecer quando sua vida é curta, finita. - ela fez uma pausa. - Eu e você não temos isso. Somos apenas almas viajantes, nômades sem tempo de vida definido, com tempo de sobra e pouco para se fazer. Afinal, para que sentir, se isso não vai te trazer um futuro? Acredite, quando se é eterno, as coisas ficam chatas demais. Não há por que sentir se, no final do dia, você ainda será esse ser frio e sem coração.

A música trocou, e a loira correu para colocar novamente na anterior. Deveria ser a quinta vez que aquela já estava sendo tocada. A voz de Jon Bongiovi já tocava novamente no local.

- Mas sentindo - disse Stefan, vendo que a garota recomeçava seus giros, enquanto os balões voavam freneticamente. - tudo isso se torna muito menos entediante e muito mais significativo. Admita, Rebekah: você sente falta de amar enlouquecidamente!

- Não quando a última pessoa que amei me enfiou uma estaca no coração. Sem ressentimentos, é claro.

- Escuta, Bekah. - ele segurou o braço de Rebekah. - Eu não queria que você se traumatizasse pelo resto da vida. Tudo aquilo aconteceu por que eu resolvi simplesmente não sentir!

A vampira riu, olhando para Stefan com suas feições inexpressivas e o sorriso no seu rosto tão vazio quanto suas promessas.

- Você era parecido com o Damon... era divertido. - disse, por fim. - Entenda, Stefan: você tem pelo que sentir, você tem um motivo! Um motivo feio, sem sal e de cabelos castanhos que, nesse momento, deve estar pensando em seu irmão, mas ainda assim, um motivo. Já eu... o único motivo pelo qual eu sentiria seria minha família, e como você bem sabe, eles não são o exemplo da família pela qual mais vale a pena sofrer. Kol é impulsivo, aquele desgraçado. Elijah... bem, aquele que some sem deixar ao menos um adeus não merece nosso respeito, merece? E Klaus, você bem sabe, sente um tipo de prazer sádico em "adagar" seus irmãos a cada cinco minutos. Então por quem valeria a pena sentir, afinal?

- Quem sabe eu?

- E você gostaria que eu "sentisse" por você? - perguntou ela, virando a cabeça para um lado, confusa. - E por que eu faria isso?

O vampiro se aproximou ainda mais dela, trançando seus dedos por detrás de sua cintura.

- Por que pode ser divertido! Sexo Vingativo com uma vampira de sentimentos... exótico, no mínimo. Qualquer coisa, depois, você pode desligar novamente seus sentimentos, e eu juro que vou parar de ser um mala.

- Impossível, Stefan, ser mala já faz parte de você. - ela sorriu, passando os dedos pelo rosto do rapaz. - E sem chances. Não nasci idiota, Stef. Nem em um milhão de anos eu retomo meus sentimentos sem um ótimo motivo. - fez uma pausa. - Já sobre o Sexo Vingativo... bem, isso nós podemos negociar depois.

E então ela se desvencilhou e voltou a rodar pelo salão. E colocou a música de novo, e de novo. Repetidas vezes. Aquele era o SEU momento, e Rebekah não se preocupava nem um pouco em ser uma vampira decidida e maldosa naquele instante. Só queria ser uma garota e curtir seu baile, ou o mais próximo disso que conseguisse.

E Stefan ficou lá, assistindo à rodopiante vampira que recusava-se a sentir novamente. E vendo o sorriso bobo nos lábios rosados dela cada vez que ficavam frente a frente, o vampiro teve certeza de que, algum dia, a Mikaelson retomaria sua humanidade, por um bom motivo. E no momento em que o fizesse, todo o mal, toda a mágoa, a culpa e a tristeza ficariam para trás novamente. E ela seria feliz como jamais havia sido antes.

Por mais cruel que ela já tivesse sido algum dia, de qualquer maneira, seu coração era machucado. Por mais que dissesse não sentir, toda vez que a traiam, ela se tornava mais rancorosa e fria. De qualquer maneira, aquela loira que parecia um peão a levantar os balões com os pés merecia ser feliz.

Todos mereciam. Todos mereciam a redenção e o perdão por seus erros. Quem sabe a hora de perdoar e esquecer não estivesse próxima?

Pensou sobre se, algum dia, seria capaz de perdoar seu irmão pelo que fizera com ele, por roubar seu amor e fazê-lo sofrer. Chegou a conclusão de que sim, ele o faria, afinal Damon era seu irmão. E se tinha tanta certeza de que Rebekah, com toda sua frieza, merecia o perdão e a felicidade, por que Damon e Elena não os mereciam?

E desceu da mesa novamente, para rodopiar com a Original. Já que se recusava a parar de sentir, por que não sentir a felicidade daquele momento enquanto a mesma durasse? Não custava tentar.