Sempre estive sozinha

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Como gostaria de estar...sozinha novamente.
Gostaria de sempre olhar para o horizonte e não me preocupar com o que aconteceria depois, ou com o que eu deveria fazer nos próximos minutos, ou com que postura eu deveria ficar diante das câmeras.
Bem longe da realidade, ou pelo menos da minha realidade.
Atada a cordas invisíveis, espiada por câmeras de segurança, enclausurada na selva de pedra, escutando o zumbido frenético da multidão ao meu redor. Forçada a viver aqui. O quê que eu fiz?
Não deveria estar aqui. Quem fez isso não fui eu! Estão me julgando erroneamente.
Mas as cenas gravadas dizem o contrário.
Era mesmo o meu rosto? Custava acreditar.
Eles estavam me acusando de ter matado aquele verme. Não vou negar, ele merecia morrer, mas eu nunca faria isso, sou tão reservada... sempre calo minha opinião... nunca a exponho... nem deveria.
Sei que não fui eu, por quê eu não me lembro de tal feito.
Por que essas pessoas me olham tristes, com medo, ou indignadas? Sou tão pura e inocente...
Como eu vim parar aqui mesmo?
Eu quero voltar para casa, para a minha casa na montanha...ou seria no campo? Eu nem sei de onde eu venho.
Eu só me lembro de ter minhas mãos cheias de sangue, mas nem sei se era meu, talvez seja...estava sentindo uma dor no peito na hora. Mas estou sem nenhuma cicatriz... estranho.
Me lembro de estar aqui ontem, entre prédios e pessoas assustadas.
Esse cara atrás de mim, todo de preto... quem é? O quê ele quer? Ele está rindo da minha cara!!
Eu quero ficar sozinha! Será que ninguém percebe? Eu quero simplesmente entender o que está acontecendo.
Eu sempre estive acompanhada, e nunca percebi. Acompanhada por este cara estranho...e outra pessoa.
Eu quero chorar, mas não posso.
Tenho que parecer inocente para as câmeras que me seguem, mesmo que eu seja, minha cara abalada não será suficiente.
Será que sou mesmo inocente?
Eu tenho certeza que sou!
O cara atrás de mim, ele está rindo ainda.
Olho para o lado, uma superfície de vidro... é ela! É ELA!
Foi aquela garota, de olhos verdes como os meus, cabelo preso como o meu, quase idêntica a mim! Eu sei que foi ela, veja a cara dela de maníaca! Ela sempre esteve comigo!
Ela acompanha meus passos, em silêncio, ao meu lado, com um cara de preto atrás dela também. Não trocamos nenhuma palavra durante o percurso. Era triste termos o mesmo destino.
Agora entendo, devia estar com ela quando ela assassinou aquela cobra miserável, por isso estava coberta de sangue. Se ao menos eu conseguisse me lembrar do ocorrido. Agora sei por que estou sendo julgada, é por causa dela!
Espere... ELA DESAPARECEU! VADIA!!
Começo a gritar de fúria olhando para a parede de pedra onde há pouco aquela garota me olhava.
Como ela pode me deixar sozinha???
Mas, não era isso que eu sempre quis? Estar sozinha?
Condenada pela própria vontade a solidão.
Ouço um cara falando em meu ouvido “ Percebe? Você sempre esteve sozinha”
Grito em resposta “O quê eu fiz?”
O homem de preto responde “ Desde que você nasceu eu tenho te seguido”
Olho para ele com um olhar desafiador, percebendo que as pessoas estão ficando assustadas cada vez mais... outra pessoa aperta mais as cordas que me prendem... ou seriam correntes?
O homem de preto ri mais alto. Eu quero destruí-lo.
Me desvencilho das correntes com um golpe brusco, viro-me para o lado onde caras de uniforme azul me seguiam, eles me apontam suas armas de choque, golpeio um deles e furto sua arma.
Aponto ela para o homem de preto que ri cada vez mais alto e maniacamente, e atiro sem pensar duas vezes. Vejo só agora que aquela era uma arma de fogo.
Estou sendo eletrocutada por umas vinte armas de choque ao mesmo tempo. Antes de perder a consciência novamente, vejo algo errado. O homem de preto nunca existiu. Eu sempre estive sozinha.
Então... quem eu acertei? Um cara qualquer... inútil...sem serventia. Um verme.
Me lembro de tudo agora...
Antes de perder a consciência novamente... estou sozinha...

Por quê estão me acusando? Eu não fiz nada! Eu não matei aqueles dois vermes! Confesso, não gosto deles, mas sou reservada...nunca faria isso.
Não me lembro como cheguei aqui... nem de onde eu vim...mas sou inocente!
Como gostaria de estar sozinha novamente...